O homem de bem
O homem de bem
Esta reflexão aborda
o homem de bem, tendo como referência os seus valores e atributos, o seu
comportamento, as suas atitudes e as suas ações para com os semelhantes na
prática do bem, demonstrando certo grau de elevação moral e espiritual alcançado,
que se harmoniza com as leis de Deus.
Em “O Livro dos
Espíritos”, de Allan Kardec, na resposta à questão 918, pode-se reconhecer um
homem de bem pelo seu progresso real, quando os seus atos na vida representam a
prática da lei de Deus, já compreendendo antecipadamente a vida espiritual.
Kardec comenta que o
homem de bem pratica a lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza,
sendo portador do sentimento de caridade e amor ao próximo, fazendo o bem pelo
bem, sem esperar retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.
Ele é bondoso,
humanitário e benevolente para com todos, vendo-os como irmãos, sem distinção
de raças e crenças, tratando-os com bondade e complacência.
É indulgente para
com as fraquezas alheias, sabendo que também precisa da indulgência dos outros.
Não é vingativo, perdoando quem lhe ofende.
Cabe destacar aqui
que o homem de bem comentado por Kardec, consciente ou inconscientemente,
religioso ou não, podendo até mesmo ser ateu, pratica a lei de justiça, amor e
caridade, que se harmonizam com as leis de Deus, isso porque o mais importante
são as suas atitudes e as suas ações na prática do bem pelo bem, como o Mestre
Jesus ensinou em sua missão na Terra.
No processo
evolutivo da Humanidade, todos estão destinados a seguir o caminho da perfeição
em direção ao Pai, sendo que uns atingem esse estágio mais cedo e outros mais
tarde, dependendo de como conduzem as suas vidas em pluralidade de existências.
O Espírito Miramez, no livro “Filosofia
espírita”, na psicografia de João Nunes Maia, Volume XVIII, Capítulo 51 – Caracteres do espírito elevado,
comenta a questão 918 de “O Livro dos Espíritos”, esclarecendo:
“Para
reconhecer o Espírito elevado na escala espiritual, basta analisar a sua vida,
porque a perfeição espiritual é o conjunto de todas as qualidades morais que a
alma pode ter. Não basta somente ser bom; é necessário que se faça a bondade com
amor, que se una amor com fraternidade, a fraternidade com a honestidade e essa
com o trabalho digno. Assim, sucessivamente, a luz deve ser limpa de todas as
trevas, para que a caridade não sofra interrupção.
O
Espírito prova a sua elevação quando todos os seus atos de vida condizem com a
lei de justiça e de amor. Quando antecipadamente compreende a vida espiritual,
pode viver no Céu, mesmo pisando na Terra.
Verdadeiramente,
o homem de bem é o que vive a lei de amor e de caridade, que esteja
constantemente renunciando às coisas supérfluas e representa uma fonte de
conhecimento, doando sempre ao que padece e ensinando aos ignorantes, é o que
está sempre interrogando a sua consciência e analisando-se constantemente,
buscando corrigir os seus maus pendores. Por onde passa, pratica a caridade e o
amor ao próximo sem exigências pessoais. Ele anda por todos os caminhos,
alegre, não blasfema quando a dor chega a sua porta, sacrifica todos os
impulsos inferiores e não deixa lugar para os maus pensamentos.
É
preciso que se veja irmãos em todos os seres, amando todas as coisas sem
distinção. Se receberes o dom da riqueza, usa-a como sendo um empréstimo, sem
desperdício, e comunga sempre com o bem que podes fazer. Tem complacência com
os que não compreendem a verdade, esforçando-te no trabalho, onde a honestidade
seja o clima de todos os deveres. Ignora a vingança e busca sempre perdoar,
fazendo do perdão uma modalidade de amar, fazendo da fraternidade um meio de
aproximação em todas as criaturas.
Não te
esqueças de ativar a vida em toda parte com a lembrança de Jesus, porque
somente Ele nos mostra Deus na sua realidade pura. Não te esqueças da citação
evangélica da mulher adúltera, com sua lição imortal extraída por Jesus para a
humanidade inteira. Deste modo, serás um homem de bem, influindo positivamente
em toda a humanidade.
Granjeia
amigos por toda parte, na verdadeira feição do Cristianismo. Sê atencioso com
todas as crianças, transmitindo a elas tudo que a educação e o discernimento
nos ensinou. Se compreenderes a lei e a praticares dentro da sua estrutura,
podes acalmar todas as ventanias do mal que porventura surgirem em teu coração.”
Percebe-se pelos esclarecimentos de Miramez que os atos do homem de bem,
em sua vida terrena, demonstram o seu grau de elevação espiritual, bastando
analisar as suas qualidades morais em relação à lei de justiça, amor e de
caridade.
O Centurião de
Cafarnaum e o homem de bem
A passagem
evangélica do Centurião de Cafarnaum caracteriza a ação do homem de bem:
“E o
servo de um certo centurião, a quem este muito estimava, estava doente e
moribundo. E, quando ouviu falar de Jesus, enviou-lhe uns anciãos dos judeus,
rogando-lhe que viesse curar o seu servo. E, chegando eles junto de Jesus,
rogaram-lhe muito, dizendo: é digno de que lhe concedas isso. Porque ama a
nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga. E foi Jesus com eles; mas,
quando já estava perto da casa, enviou-lhe o centurião uns amigos, dizendo-lhe:
Senhor, não te incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu
telhado; e, por isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo; dize,
porém, uma palavra, e o meu criado sarará. Porque também eu sou homem sujeito à
autoridade, e tenho soldados sob o meu poder, e digo a este: vai; e ele vai; e
a outro: vem; e ele vem; e ao meu servo: faze isto; e ele o faz. E, ouvindo
isso, Jesus maravilhou-se dele e, voltando-se, disse à multidão que o seguia: digo-vos
que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé. E, voltando para casa os que
foram enviados, acharam são o servo enfermo.” (Lucas, 7: 2-10)
Essa passagem é rica
em beleza, com ensinamentos e exemplos para as nossas vidas no que se refere a
ser uma pessoa de bem.
Antes da abordagem
interpretativa, cabem alguns destaques a serem feitos: o pedido de auxílio a
Jesus veio de um Centurião romano, militar do exército invasor; o beneficiado era
um escravo; houve apoio dos anciãos ao pedido do Centurião, que o destacaram por
suas qualidades morais; e a evidência da surpreendente fé do Centurião.
A força do bem marca
as ações de todos os envolvidos nessa história.
O Centurião revelou-se
uma pessoa de boa índole, respeitando as tradições culturais e religiosas dos
habitantes daquela aldeia, subjugados ao domínio de César, conquistando-lhes a
simpatia e a amizade.
O Centurião não se
valeu da sua posição e tampouco fugiu aos seus deveres para cativar a
comunidade de Cafarnaum pela construção de uma sinagoga.
Os representantes
dos judeus revelaram sentimento de gratidão ao se dirigirem a Jesus sem
considerar as diferenças religiosas para endossar o pedido do Centurião,
afirmando: “é digno de que lhe
concedas isso. Porque ama a nossa nação e ele mesmo nos edificou a sinagoga”. O benefício recebido do Centurião encontrou eco
no coração daqueles judeus.
O maior benefício da
graça concedida estava no reconhecimento daquele fato, que despertou a gratidão
unindo o beneficiário ao benfeitor.
A forma de agir do
Centurião e dos judeus indicou que pessoas de boa vontade conseguem superar as
divergências pessoais e culturais para viverem em paz.
Além da força do
bem, observou-se a intercessão em benefício de alguém: o Centurião intercedeu
pelo criado, os anciãos intercederam pelo Centurião e Jesus intercedeu, junto a
Deus, por todos.
O Cristo se deslocou
até a residência do Centurião, que humildemente disse: “Senhor, não te
incomodes, porque não sou digno de que entres debaixo do meu telhado; e, por
isso, nem ainda me julguei digno de ir ter contigo”.
No final, ao
enaltecer o homem de bem, Jesus afirmou: “Digo-vos
que nem ainda em Israel tenho achado tanta fé”.
Assim, o Centurião de
Cafarnaum representa exemplo do homem de bem que, por força das suas qualidades
morais e da fé que possuía, conseguiu transformar adversários em amigos, os
quais se solidarizaram com ele num momento em que buscou auxílio de Jesus em
benefício de um servo doente.
O homem de bem e os tesouros celestiais no coração
“O homem
bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira
coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está
cheio o coração.” (Lucas, 6: 45)
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e
a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai
tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões
não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o
vosso coração”. (Mateus 6: 19-21)
Os ensinamentos dessas
passagens evangélicas têm como foco o homem de bem e os bons tesouros,
celestiais ou edificantes, que enchem o seu coração, e a boca que fala desses
tesouros armazenados no coração. Dependendo dos bons ou maus tesouros guardados
no coração, o homem será bom ou mau.
Jesus fala dos tesouros
assentados no coração, porquanto ele simboliza os sentimentos, o órgão que
constitui o verdadeiro termômetro das emoções e que está na dependência do
centro vital chamado Cardíaco, que age sobre a circulação do sangue e a
emotividade.
O coração está
relacionado aos sentimentos humanos, bons ou ruins, abrigando a essência do
ser, permitindo a aproximação entre Deus e os homens, e uma relação direta
entre amor e espiritualidade, sendo o coração símbolo do sentimento de amor.
Jesus
disse: “O que contamina o
homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina
o homem” (Mateus, 15:
10-11). Logo, o que sai da boca do homem é que o macula, porque procede do
coração, tornando-o impuro, porquanto do coração é que partem os maus pensamentos
e todas as blasfêmias e as maledicências interiores.
O período de
regeneração da Humanidade é marcado por significativa transição moral e
espiritual, sendo de fundamental importância trazermos o Cristo na mente e no
coração, a fim de que não venhamos a sucumbir em nossas provações e expiações
que nos desafiam a seguir em frente na prática do bem e na busca da perfeição.
Comece limpando o seu
coração de todos os sentimentos inferiores que somente estacionam a evolução
moral e espiritual, considerando que toda transformação terá de nascer no
interior de cada ser, pois no coração é que se trava a verdadeira guerra de
melhoria dos sentimentos. É preciso abrir as portas do coração e sair da
estagnação alimentada pelos vícios arraigados em várias existências.
A pureza do coração
evitará o endurecimento espiritual da alma, porque ela aquecerá e irradiará
amor em todas as direções, estimulando a alegria dos bons e reduzindo a
infelicidade dos nossos irmãos.
Por tudo isso,
procure ser uma pessoa de bem, em que a fé, a boa vontade e a força do bem são
combustíveis necessários para entendermos as engrenagens do Universo, em que
somos fagulhas celestiais de energias geradas pelo cosmo divino e, a exemplo do
Centurião de Cafarnaum, que possamos dizer humildemente: “Senhor não somos
digno de que estreis em nossa morada, mas dizei uma palavra e seremos salvos!”
Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de
Divaldo Pereira Franco. Episódios diários. 10ª Edição. Salvador/BA: Editora LEAL, 2016.
ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de
Divaldo Pereira Franco. Florações evangélicas. 6ª Edição. Salvador/BA: Editora LEAL, 2020.
BIBLIA
SAGRADA.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan;
tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MIRAMEZ (Espírito); na
psicografia João Nunes Maia. Filosofia espírita. Volume XVIII. 1ª
Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Fonte Viva, 1990.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina
espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte I: orientações espíritas e
sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do
Espiritismo. 1ª Edição. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2016.

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