A quem obedece e segue?
A quem obedece e segue?
Essa reflexão aborda algumas questões em que, diante de certas
circunstâncias da vida, somos arrastados por falsos discursos, mensagens
distorcidas, hipocrisias, idolatrias equivocadas que nos desviam do caminho do
bem, acreditando estar obedecendo e seguindo preceitos ditos como
“verdadeiros”, os quais procuram adesão para objetivos que não do caminho da
verdade e da vida em direção ao Pai maior.
Hipocrisia
A hipocrisia tem como característica principal o comportamento de uma
pessoa que apresenta opinião, a qual não possui, ou finge sentir o que, na
realidade, não sente, escondendo a sua falsidade, a sua dissimulação, o seu
fingimento ou os seus sentimentos sinceros.
O hipócrita pode ocultar sua realidade por meio de máscara da aparência,
fingir possuir boas qualidades para ocultar seus defeitos. Além disso, pode
dissimular a verdadeira personalidade, intenções ou sentimentos para alcançar a
realização pessoal ou por medo de assumir uma real identidade.
O Mestre Jesus ao trazer a Boa Nova para a Humanidade combateu a
hipocrisia reinante da época, diante de escribas, fariseus e lideranças
religiosas.
Falso profeta
Conceitualmente, profeta pode ser aquele que proclama, anuncia os
desígnios divinos, dá sinais da divindade, sabe de coisas que pessoas comuns
não sabem ou vem em missão para instruir os homens e revelar as coisas ocultas
e os mistérios da vida espiritual. Associou-se profeta também às profecias, com
o dom de desvendar o futuro.
Na história da Humanidade, muitas pessoas valeram-se de falsos
discursos, promessas vãs, ilusões ou teorias falhas, atribuindo-lhes poder
divino, prodígios ou milagres, apresentando-se como reformadores e messias, com
a finalidade de enganar.
O alerta do Mestre Jesus quanto aos falsos profetas é oportuno,
porquanto esses lobos em trajes de ovelhas poderão enganar até os escolhidos.
O Cristo passou uma regra para identificar os falsos profetas: “Conhecê-los-eis
pelos seus frutos. (...), toda árvore boa produz bons frutos e toda árvore má
produz maus frutos. Uma árvore boa não pode produzir frutos maus e uma árvore
má não pode produzir frutos bons”. (Mateus, 7: 15-20)
O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos
reconhecê-lo por suas palavras e pelos seus atos. Impossível Deus servir-se de
boca mentirosa para ensinar a verdade.
Os verdadeiros profetas são Espíritos adiantados que fizeram suas provas
noutras existências. O missionário divino é reconhecido pela superioridade em
inteligência, moralidade, virtudes, grandeza e influência moralizadora de suas
obras.
Já os falsos profetas se dizem investidos de poder divino e possuidores
da verdade, ao mesmo tempo em que se mostram orgulhosos, vaidosos, cheios
de si, falam com altivez e parecem temerosos de que não lhes deem crédito.
Como no passado, continuará havendo falsos profetas, procurando
desviarmos do caminho da verdade e da vida preconizado pelo Mestre Jesus.
A melhor prevenção é seguir os exemplos e os ensinamentos de Jesus:
árvore boa somente dá bons frutos, não há como árvores más dar bons frutos.
Palavras de vida eterna
Em termos de obedecer e seguir, pergunta-se quem detém palavras de vida
eterna?
Do Evangelho de João, extraímos: “Muitos dos seus discípulos se
retiraram e não andavam mais com ele. Perguntou então Jesus aos doze: Quereis
vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem havemos
nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna; e nós temos crido e conhecemos que
és o Santo de Deus”. (João, 6: 66-69)
O contexto dessa passagem está logo após a revelação de Jesus sendo o
pão descido do céu como alimento para a vida, provocando incompreensão entre os
judeus.
Muitos de seus discípulos, receosos do dever que lhes caberiam, também
se afastaram do Mestre.
Em razão da escassez de fortaleza moral, a pessoa não consegue pôr em
prática os ditames da vontade. Essa é causa da maioria dos processos de fuga e
dos recuos perante os desafios da vida, desorientando e conduzindo a temores
infrutíferos.
Diante dos abandonos, sem violar o livre arbítrio, Jesus perguntou aos
doze se eles também queriam se retirar. Pedro responde: “Senhor, para quem
havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna”, indicando que “quem
começa o serviço de espiritualidade superior junto com Jesus jamais sentirá
emoções idênticas à distância d’Ele. (...) Quem comunga efetivamente no
banquete da revelação cristã em tempo algum olvidará o Mestre amoroso que lhe
endereçou o convite. (...) Por esse motivo, Simão Pedro perguntou com muita
propriedade: ‘Senhor, para quem iremos nós’?” (Espírito Emmanuel. Pão
nosso. Capítulo 151. Ninguém se retira. Na psicografia de Francisco Cândido
Xavier)
As palavras do Cristo são de vida eterna porque verdadeiras, luz da vida
e esperança que sustentam a fé e a confiança na justiça, na bondade e na
misericórdia de Deus. Palavras de vida eterna do Evangelho de Jesus, legado
abençoado que aponta diretrizes seguras, devem nortear o aprendizado na
escalada evolutiva, pois atendem às necessidades e aos anseios de todos. Só a
fé na vida eterna nos livra da escuridão.
Continuar a seguir as pegadas de Jesus e andar com Ele é decisão de cada
ser no uso do seu livre-arbítrio. Se escolhida com consciência e discernimento,
aprendemos a conciliar as expectativas da vida no plano físico com as
necessidades de melhoria espiritual.
Cego que guia cego
Envolvidas por cegueira dominante, algumas pessoas se identificam com
ideais e pensamentos que contaminam a alma, exemplificando ao que disse o
Mestre Jesus em uma de suas parábolas: “Pode porventura o cego guiar o cego?
Não cairão ambos na cova?” (Lucas, 6: 39; e Mateus, 15: 12-14)
Essa Parábola está no contexto em que os fariseus, em suas hipocrisias,
valorizavam mais as práticas exteriores do que realmente seguir os preceitos
das leis de Deus, e tinham a pretensão de ser os mais esclarecidos da sua
nação. As práticas do bem e da caridade sucumbiam para o formalismo religioso.
A maioria dos fariseus e escribas estava cega e surda espiritualmente.
Em termos de fé, devemos estar atentos aos cegos do Espírito que se
julgam aptos bastante para ser guia de cegos espirituais, porquanto estes são
incapazes de enxergar as verdades divinas, em que o orgulho e a soberba são
cataratas que cobrem a visão.
O Espírito Emmanuel, no livro Pão Nosso, Capítulo 165, em “Falsos
discursos”, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, alertou: “Falsos
discursos enganaram indivíduos, famílias e nações. Acreditaram alguns em
promessas vãs, outros em teorias falaciosas, outros, ainda, em perspectivas de
liberdade sem obrigações. E raças, agrupamentos e criaturas, identificando a
ilusão, atritam-se, mutuamente, procurando a paternidade das culpas. Muito
sangue e muita lágrima têm custado a criação do verbo humano.”
No mesmo livro, Emmanuel, no Capítulo 16, em “A quem obedeces?”, ensina:
“Toda criatura obedece a alguém ou a alguma coisa. (...) O homem
obedece a toda hora. (...) O discípulo necessita examinar atentamente o campo
em que desenvolve a própria tarefa. A quem obedeces? Acaso, atendes, em
primeiro lugar, às vaidades humanas ou às opiniões alheias, antes de observares
o conselho do Mestre Divino? É justo refletir sempre, quanto a isso, porque
somente quando atendemos, em tudo, aos ensinamentos vivos de Jesus, é que
podemos quebrar a escravidão do mundo em favor da libertação eterna.”
Assim, não podemos, ao mesmo tempo, servir a dois senhores, ou obedeço e
sigo a um ou ao outro. Não podemos viver a vida que Deus quer para nós e ceder,
simultaneamente, aos desvarios da vida mundana.
Aquele que caminha para progredir moral e espiritualmente, obedece e
segue as pegadas do Mestre Jesus, porquanto a conquista do reino de Deus
deveria ser objetivo de todos.
A edificação do reino divino, em cada ser deste mundo, será decorrente
do uso correto do livre arbítrio nas escolhas pelo caminho da verdade e da
vida, do constante aprimoramento, do indispensável esforço e pela prática dos
ensinamentos do Cristo que produz bons frutos, “porque o Filho do homem virá na
glória de seu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas
obras” (Mateus 16:27). Fé sem obras é nada.
Jesus revelou outro mundo sob a ótica do amor, da fraternidade
universal, da caridade, da justiça, da bondade e da misericórdia divina. É esse
mundo, ou reino de Deus, que Ele promete aos que cumprirem os seus mandamentos,
onde os bons encontrarão suas recompensas e bem-aventuranças.
Devemos juntar os bens celestiais. Jesus disse: “Não ajunteis
tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões
minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem
consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração”. (Mateus 6:19-21)
Com a aquisição dos tesouros celestiais, não precisamos ficar ansiosos
pelo dia de amanhã, pois o dia cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
É preciso ter fé, confiança em Deus, crer na imortalidade do Espírito, na vida
que nunca acaba.
O Mestre ensina que dia virá em que o reino de Deus será deste mundo.
Isso dar-se-á quando os homens forem regenerados pela verdade na estrada do
progresso e da fé.
Para que todas as coisas sejam acrescentadas às nossas vidas, é
indispensável que procuremos o reino de Deus e sua justiça, na busca da
verdadeira felicidade.
Estão próximos os tempos em que nesse planeta reinará a grande
fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio,
esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas.
No atual momento de transição planetária, é preciso agir com cuidado
para não sermos envolvidos e enganados pelos falsos profetas e hipócritas,
porque, submetidos ao peso das provações, estaremos mais expostos e
fragilizados.
As vozes do mundo espiritual conclamam os trabalhadores do bem à
vigilância e à oração, como forma de se neutralizar as incursões do mal.
Permanecendo na Palavra e conhecendo a verdade divina, na busca da
transformação moral libertadora, a perseverança e a vigilância surgem como
essenciais preceitos de conduta nas lutas renovadoras, das quais somos
convocados a fazer as escolhas mais acertadas em prol dos mais elevados
sentimentos de fraternidade universal, pela prática da caridade para com nós
mesmos e aos nossos semelhantes.
A retidão de comportamentos, atitudes e procedimentos no caminho do bem
e da caridade terá um efeito aglutinador pela fé e confiança, valendo mais do
que mil palavras.
Dessa forma, cresce de importância a vigilância e a dedicação aos
estudos doutrinários espíritas, para se obter os entendimentos do Evangelho
Redivivo, mediante a correta assimilação dos verdadeiros entendimentos,
exemplos e princípios. Orai e vigiai!
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
KARDEC,
Allan; Tradução de Guillon Ribeiro. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
EMMANUEL
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Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina
espírita: Ensinos Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas
de Jesus – Parte I. Orientações espíritas e sugestões didático pedagógicas
direcionadas ao estudo do aspecto religioso do espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2016.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira de (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina
espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e
sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do
Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
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Cecília (Organizadora). Estudo sistematizado da Doutrina Espírita: programa
fundamental – Tomo I. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2018.
MOURA, Marta Antunes de
Oliveira de (Organizadora). O Evangelho Redivivo: estudo interpretativo do
Evangelho segundo Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2020.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O
Clarim, 2016.

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