Amor e ódio
Amor
e ódio
Essa reflexão tratará do amor e ódio, como sentimentos opostos que
podem se manifestar diante de certas situações da vida, de provações e
expiações, que se apresentam para a nossa educação, correção e evolução moral e
espiritual.
Pelo dicionário, a palavra amor, dentre tantas, pode significar:
sentimento afetivo forte de afeição por outra pessoa; de afeto que faz com que
uma pessoa queira estar com outra; de devoção direcionada a alguém ou ente
abstrato; adoração; paixão ou atração baseada no desejo sexual; ou
religiosamente, amor a Deus e ao próximo.
Já o ódio está relacionado a antipatia e aversão para com algo ou
alguém. Trata-se de um sentimento negativo em que se deseja mal ao sujeito ou
objeto odiado. O ódio pode impulsionar inimizade e repulsa, em que as pessoas
tentam evitar ou destruir aquilo que odeiam. No caso de ódio a outro ser humano,
o sentimento pode refletir-se através de insultos ou agressões físicas.
Dependendo das situações e da moral do ser humano, alguns passam
do amor para o ódio, por impulso, em um lapso pequeno de tempo.
Importante ressaltar que o ódio é um sentimento negativo muito
forte, embora alguns também utilizem a palavra ódio em um sentido mais ameno
para expressar que não gosta de alguém ou alguma coisa.
De qualquer forma, alimentar sentimento de ódio não faz bem para
si mesmo e tampouco para o seu próximo, mesmo porque a violência tende a ser
uma consequência do ódio.
Em nossas rotinas e lutas diárias, deparamo-nos com diversas
situações conflituosas no ambiente familiar, no trabalho ou nos relacionamentos
interpessoal e social, e como nos aborrecemos e irritamos facilmente diante
dessas circunstâncias.
Em certos momentos, tendo o ego e o orgulho feridos, reagimos com
ira, raiva e violência, seja porque alguém nos disse algo, deu um encontrão,
provocou uma fechada no carro, o vizinho nos incomodou, ou qualquer outro fato
inesperado e conflituoso.
É por orgulho ferido que discutimos, brigamos e magoamos. É o
orgulho, o exagero do amor próprio, que deixa de ser amor para tornar-se algo
doentio, que dificulta o perdão.
Não queremos perder para ninguém nenhuma discussão e tampouco ser
ultrapassados. Acreditando no direito de defesa e na sobrevivência, reagimos e
respondemos na mesma intensidade às ofensas e agressões recebidas e, às vezes,
até partirmos para o revide de forma passional. Na sociedade, não são poucos os
crimes passionais.
Ofendemos e somos ofendidos, deliberadamente ou sem intenção.
Ferimos nossos semelhantes porque não conseguimos frear os impulsos. Uma
simples contrariedade é motivo para perder o equilíbrio.
As ofensas contra os nossos semelhantes são várias, tais como:
dizer palavras torpes ou depreciativas; recorrer à ironia; fazer brincadeiras
de mau gosto; valer-se de crítica destrutiva; desrespeitar as ideias alheias;
mostrar gestos indelicados; dirigir-se aos gritos; e tratar o próximo com
desprezo. Há certa relação entre orgulho e indelicadeza. Quanto mais orgulhoso,
maior a sua tendência para ser indelicado com o semelhante.
É dever de todo cristão reconhecer os próprios equívocos e
desculpar-se. Muitas vezes, sabe que está errado, que cometeu injustiça, mas
não pede perdão. Procura todo tipo de justificativa para o seu ato, para não
ter de escusar-se. Essa resistência tem o efeito de reforçar a soberba.
É preciso controlar os impulsos agressivos: pensar, antes de dizer
qualquer coisa; selecionar as palavras a serem empregadas; abolir palavras
depreciativas, ironia, brincadeiras de mau gosto, crítica destrutiva, gestos
indelicados, gritos; respeitar as ideias alheias; pedir perdão quando não agir
adequadamente; praticar o princípio de só fazer ao próximo o que se deseja para
si mesmo.
As ofensas exprimem sentimentos contrários à lei do amor e da
caridade, que deve existir nas relações entre os homens para manter a concórdia
e a união.
A cólera é irritação forte, raiva, ira, impulso violento que nos
incita contra aquele ou aquilo que nos ofende ou indigna. É comportamento de
ferocidade e explosão. A cólera conduz aos sentimentos mais primitivos, das
almas baixas ou dos Espíritos inferiores, beirando a selvageria, sendo causa de
diversas enfermidades físicas e males psíquicos, sentimentos que impedem se
faça o bem e pode levar até à prática do mal. A cólera, sem perceber, conduz a
baixos padrões vibratórios que partem de nós aos outros, retornando em forma de
angústia e sofrimentos.
Para garantir a sobrevivência, a cólera funciona como mecanismo de
autodefesa diante do que acredita ser um perigo. Por isso, deve-se dominá-la,
pois poderá invocar forças tenebrosas, proporcionar momento impensado, escuros
compromissos, descendo da harmonia à perturbação e vagueando nos labirintos da
prova por tempo indeterminado.
Os acessos de cólera não resolvem os problemas. Diante desses
males, é preciso estar atento às constantes influências negativas e promover
reforma íntima na busca de renovação, transformação e mudança de determinados
comportamentos.
A caridade e a fraternidade tornam-se uma necessidade social.
Somente o progresso moral pode assegurar a felicidade dos homens sobre a Terra,
colocando um freio nas más paixões; somente ele pode fazer com que reinem a
concórdia, a paz e a fraternidade entre os homens.
Assim, a fraternidade não está mais circunscrita a alguns
indivíduos que o acaso reúne durante a duração efêmera da vida; ela é perpétua
como a vida do Espírito, universal como a humanidade, que constitui uma grande
família em que todos os membros são solidários uns com os outros, qualquer que
seja a época em que viveram.
A caridade para com o próximo (amor ao próximo em ação) é lei
primeira de todo cristão e a benevolência para com os seus semelhantes, fruto
do amor ao próximo, produz afabilidade e doçura, que são formas de
manifestar-se. Quando a humanidade se submeter à lei do amor e da caridade,
deixará de haver egoísmo.
A meta deve ser buscar a paz interior, a paz de Espírito, dentro
do contexto de reforma íntima, mudando nosso comportamento segundo as leis de
Deus e os ensinamentos de Jesus e, como consequência, contribuir para a paz na
Terra. Com a paz interior, cada um de nós estará semeando a paz na Terra.
Inspirados pelo amor ao semelhante e sem mágoas, devemos trabalhar
pela paz e pelo entendimento entre os homens. Diante de situações conflituosas,
antes da decisão aconselhada pela ira ou pela violência, devemos perguntar ao
amor o caminho a ser seguido. E o amor responderá com sabedoria como
prosseguir. O amor falará da mansidão, da brandura, da paz e da esperança.
Jesus com humildade e simplicidade caminhou em meio ao povo cheio
de sofrimentos, opulências e maldades. A sua mansuetude encantou e a sua paz
ratificou mensagens e ações. Em Jesus, devemos buscar as lições de mansidão nas
nossas lutas da vida, que conduzem para a libertação da alma pela tolerância,
bondade, indulgência e amor ao próximo. Os mansos e humildes possuirão a Terra.
A resposta do amor exigirá grande esforço e tempo para reflexão,
porquanto a prática do amor impõe retribuição. Esforço e tempo estarão
conectados com a paciência, no autocontrole emocional que suporta situações
desagradáveis, sem perder a calma e a concentração.
Paciência é tolerância com os erros alheios, perseverança, agir
sem pressa, ser atento, cuidadoso, saber ouvir, ver, sentir e falar com
parcimônia, como resposta à situação ou à ação que aparentemente não tem
previsão para se concretizar. Paciência é fé, confiança, acreditar na Palavra e
esperar em Deus, no caminho da verdade e da vida em direção ao Pai.
É imprescindível saber suportar para renovar, sofrer para
soerguer, apoiar para levantar e renunciar para possuir.
Paciência é perseverar na edificação do bem, a despeito das
arremetidas do mal, e prosseguir corajosamente cooperando com ela e junto dela,
quando nos seja mais fácil desistir. Liberte a alma, soltando as amarras
perturbadoras do egoísmo e do orgulho.
Ante o amor, a dificuldade torna-se desafio, a dor faz-se teste, a
enfermidade constitui resgate, a luta se converte em experiência, a ingratidão
ensina, a renúncia liberta, a solidão prepara e o sacrifício santifica.
Da consciência da libertação, o equilíbrio emocional se mostra na
reação diante de situações inesperadas, em que refletimos antes dessa ação. É
preciso identificar o que precisamos trabalhar para encontrar o equilíbrio. A
serenidade auxilia a lidar com essas situações, impedindo que elas nos
desestabilizem.
Jesus convidou-nos ao equilíbrio, à candura e à humildade, para
que aprendamos a possuir, em nome do Pai, todo poder e toda glória da vida.
Procuremos, pela tolerância fraterna, a lição sublime para que estejamos
seguros nas construções imperecíveis da alma. À frente da crueldade, da
violência, da ignorância e da insensatez, mantenhamos acesa a chama do amor.
Jesus ensina obediência e resignação, que não são negação do
sentimento e da vontade, ou a submissão ao desejo e à vontade de outra pessoa.
Ao contrário, são virtudes que se expressam em ações ativas, porque refletem
confiança plena em Deus e em suas leis.
A obediência e a resignação cristãs devem ter o aval da razão e da
sensibilidade, através de raciocínios que as tornem compreensivas, demonstrando
seu valor e sua necessidade ao viver do homem na Terra e ao seu viver
eterno. O cristão se submete às leis divinas, porque confia no seu
Criador. Na obediência e resignação cristãs, o homem esforça-se para entender
as leis morais trazidas por Jesus pelo consentimento da razão e da
sensibilidade, compreendendo serem essas ações morais necessárias para um viver
produtivo em ações nobres, de transformações internas e de progresso
espiritual.
Entendendo as causas das dores e dos sofrimentos, pela lei de
causa e efeito, o ser humano esforça-se pela aceitação dos mesmos, resigna-se,
não reclama, não se revolta, não se desespera, porque sabe que esses males são
necessários ao seu progresso espiritual. Procura, então, com serenidade e
confiança, a libertação com a certeza de que esses sofrimentos lhe trarão
benefícios e que esses bens não viriam de outra forma, por causa de sua própria
rebeldia. Assim, a obediência é consentimento da razão e a resignação é
consentimento do coração, porquanto carregam o fardo das provações.
Com os esclarecimentos e ensinamentos de Jesus, compreendemos que
a verdadeira felicidade não é material, mas sim espiritual, a felicidade da paz
interior, começando a semeá-la dentro de nós, limpando o nosso coração de todas
as impurezas, de todos os sentimentos contrários às leis de Deus.
Em nossa evolução moral e espiritual, a construção da paz interior
defrontar-se-á com as situações conflituosas do dia a dia. Seremos testados
pelas nossas reações, como controlamos os impulsos e enfrentamos os desafios
que se apresentam nas lutas diárias.
O livre-arbítrio sempre estará relacionado à decisão a ser tomada,
se escolheremos o caminho da mansidão e da paz ou se daremos vazão aos
sentimentos inferiores para ferir o nosso semelhante com ofensas.
Os pacíficos serão reconhecidos como filhos de Deus, porque
obedecem à lei da fraternidade, sabendo que todos somos irmãos, filhos de um
único Pai, que tratam a todos com brandura, moderação, mansuetude, afabilidade
e paciência. É em Jesus que devemos buscar as lições de mansidão de que tanto
carecemos nas lutas da vida.
O Espírito Joanna de Ângelis, no livro “Garimpo de amor”, na
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ensina: “Alcança-se a plenitude
terrena quando se consegue amar. Amar, sem qualquer condicionamento ou
imposição, constitui a meta que todos devem perseguir, a fim de atingir o
triunfo existencial. (...)
“Quando alguém empreende a tarefa de ser aquele que ama, ocorre
uma revolução significativa no seu psiquismo, e todo ele se transforma numa
chama que ilumina sem consumir-se, numa tranquilidade que não se altera. (...)
“O amor tudo pode e tudo vence. Não se afadigando mediante a
pressa, estende-se ao longo do tempo como hálito de vida que a mantém e brisa
cariciosa que a beneficia. (...)
“O amor é um tesouro que mais se multiplica, à medida que se
reparte, jamais desaparecendo, porque a sua força reside na sua própria
constituição, que é de origem divina. (...)
“Afinal, sendo de essência divina, nunca será demasiado repetir-se
que o amor é a emanação da Vida, é a alma de Deus”.
Assim, a transição da Era da
Matéria para a Era do Espírito tem de começar no mundo interior de cada criatura.
Comecemos pela reforma
íntima, dando novo rumo à vida pela renovação que liberta, substituindo
sentimentos inferiores pelos mais elevados. Devemos modificar os velhos hábitos
que cristalizam o coração, abandonando-os por não satisfazerem à paz interior.
O momento de transição pede
maior espiritualização, substituindo as velhas fórmulas da ignorância, da
opressão política, religiosa, moral ou econômica, pelas elevadas noções de
fraternidade do Cristianismo.
Quando nos moralizarmos e
tornarmos realmente altruístas, nos converteremos em fontes luminosas, ligando
o Céu e a Terra. Se desejamos sublimar a nossa alma, temos que nos educar,
transformando o coração em um altar de fraternidade.
A Era do Espírito pede a conquista de nós mesmos, luta incessante,
trabalho e responsabilidades. É o futuro acenando-nos com as suas mãos de luz
para a realização das obras celestiais.
Nessa direção, mergulhados
no determinismo divino e na dinâmica evolutiva do Universo, somos movidos pelos
anseios de melhorar e aperfeiçoar cada vez mais.
Bibliografia:
ÂNGELIS,
Joanna de (Espírito); psicografia de Divaldo Pereira Franco. Garimpo de amor. 6ª Edição. Salvador/BA:
LEAL Editora, 2015.
ÂNGELIS,
Joanna de (Espírito); psicografia de Divaldo Pereira Franco. Leis morais da vida. 16ª Edição.
Salvador/BA: LEAL Editora, 2019.
BÍBLIA
SAGRADA.
DENIS,
León. O problema do ser, do destino e da
dor. 32ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
MIRANDA,
Manoel Philomeno de (Espírito); psicografado por Divaldo Pereira Franco. Transição
Planetária. 5ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2017.
MOURA,
Marta Antunes de Oliveira (organizadora). Estudo aprofundado da doutrina
espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II. Orientações espíritas e
sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do
Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

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