Anjo tem sexo?
Anjo
tem sexo?
De vez em quando, escutamos dizer: anjo não tem
sexo!
Então, perguntamos: anjo tem sexo? Como a Doutrina
Espírita explica?
Para responder a esse questionamento, realizamos
pesquisas na literatura básica espírita e na complementar, considerando a
dinâmica das revelações do mundo espiritual, que são contínuas, acumulativas e
progressivas.
Na Introdução, em O Livro dos Espíritos, de
Allan Kardec, temos: “Há no homem três coisas: 1º, o corpo ou ser material
análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º, a alma ou ser
imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3º, o laço que prende a alma ao corpo,
princípio intermediário entre a matéria e o Espírito. Tem assim o homem duas
naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe
são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos. O laço ou
perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório
semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito
conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no
estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo
tangível, como sucede no fenômeno das aparições.”
No mesmo livro, na questão 76, somos informados que
os Espíritos são seres inteligentes da criação e povoam o Universo, fora do
mundo material. Kardec comenta que a palavra Espírito é empregada para designar
as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente
do Universo.
Na questão 80, sabemos que Deus jamais deixou de
criar os Espíritos e as suas criações são permanentes. Em seguida, na questão
81, somos esclarecidos que Deus cria os Espíritos como a todas as outras
criaturas, pela sua vontade. Na questão 83, os instrutores espirituais ensinam
que os Espíritos são imortais, ou seja, eles não têm fim.
O Mestre Jesus disse: “O que é nascido da carne
é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito” (João 3: 6).
A esse respeito, Kardec, em O Evangelho Segundo
o Espiritismo, Capítulo IV, comenta: “... Jesus estabelece aí uma
distinção positiva entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é carne
indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito independe
deste.”
Por esses esclarecimentos, pode-se verificar que o
corpo procede do corpo e o Espírito tem origem divina, sendo imortal, sem fim,
por conseguinte não há reprodução entre Espíritos para o surgimento do ser
espiritual. A reprodução biológica, que perpetua a espécie humana na Terra, é
inerente da carne, que recebe o Espírito na encarnação. Além disso, cada
Espírito imortal tem a sua individualidade, mantendo-a em todas as suas
existências.
O perispírito, corpo espiritual ou corpo fluídico,
elemento semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito, liga a alma
ao corpo. Ele é vaporoso e sutil, que tem a forma humana, sendo invisível no
seu estado normal. O Espírito está sempre revestido do perispírito, cuja
natureza se eteriza à medida que ele se depura e se eleva na hierarquia
espiritual.
O Espírito encarnado no corpo constitui a alma.
Quando o deixa, por ocasião da morte, sai dele com o perispírito, conservando a
forma humana e, nas aparições espirituais, traz a forma que lhe conhecíamos.
Espírito com mais conhecimento pode alterar a forma
perispiritual, assumindo a de existências anteriores, outras diferentes ou até
mesmo formas não humanas, por ação hipnótica, ou seja, dependendo da sua
evolução, a forma perispiritual pode ter a forma que o Espírito queira: da
última existência, de existências passadas ou outra diferente, seja a forma
perispiritual de homem ou mulher.
Essa assertiva é confirmada pela questão 201,
quando Kardec pergunta: “Em nova existência, pode o Espírito que animou o
corpo de um homem animar o de uma mulher e vice-versa?” A resposta é: “Decerto;
são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres.”
Por conseguinte, um Espírito imortal, em
pluralidade de existências, poderá assumir o corpo de homem ou mulher, quer
seja durante sua encarnação como no mundo espiritual, e vice-versa.
Pela questão 132, os Espíritos Superiores
esclarecem que Deus impõe a encarnação ao Espírito com o fim de fazê-lo chegar
à perfeição. Para alcançar essa perfeição, tem que sofrer todas as vicissitudes
da existência corporal. Visa, ainda, outro fim a encarnação: o de pôr o
Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para
executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento de harmonia com
a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as
ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se
adianta.
Assim, o Espírito precisa sofrer todas as
vicissitudes da existência corporal para evoluir na busca da perfeição, quer
seja como homem ou mulher, e vice-versa.
Em O Livro dos Espíritos, na
Introdução, somos informados que os Espíritos pertencem a diferentes classes e
não são iguais em poder, inteligência, saber e moralidade.
Os da primeira ordem são os Espíritos superiores,
que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua
proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são
os anjos ou puros Espíritos.
Os Espíritos dessa ordem percorreram todos os graus
da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria, tendo alcançado a
soma de perfeição de que é suscetível a criatura, não têm mais que sofrer
provas, nem expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos
perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus.
Gozam de inalterável felicidade, porque não se
acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Eles
são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para
manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são
inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas
missões. Assistir os homens nas suas aflições, concitá-los ao bem ou à expiação
das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, constitui para
eles ocupação gratíssima. Eles são designados às vezes pelos nomes de anjos,
arcanjos ou serafins.
Na questão 128, Kardec pergunta se os anjos,
arcanjos e serafins formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos
outros Espíritos. A resposta é: “Não; são os Espíritos puros: os que se
acham no mais alto grau da escala e reúnem todas as perfeições”.
Na questão 129, Kardec pergunta: “Os anjos hão
percorrido todos os graus da escala?” A resposta é: “Percorreram todos
os graus, mas do modo que havemos dito: uns, aceitando sem murmurar suas
missões, chegaram depressa; outros, gastaram mais ou menos tempo para chegar à
perfeição”.
Kardec complementa essa resposta: “A palavra
anjo desperta geralmente a ideia de perfeição moral. Entretanto, ela se aplica
muitas vezes à designação de todos os seres, bons e maus, que estão fora da
Humanidade. Diz-se: o anjo bom e o anjo mau; o anjo de luz e o anjo das trevas.
Neste caso, o termo é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-lo aqui na sua
melhor acepção.”
Então, pode-se verificar que os anjos são Espíritos
puros, da primeira ordem, que percorreram todas as ordens até chegar à
perfeição, não havendo mais a necessidade de reencarnar.
Kardec trata do tema “Sexo nos Espíritos”, das
questões de 200 a 202, a saber:
“200.
Têm sexos os Espíritos?
Não
como o entendeis, pois que os sexos dependem da organização. Há entre eles amor
e simpatia, mas baseados na concordância dos sentimentos.
202.
Quando errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de
uma mulher?
Isso
pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar. Os Espíritos encarnam como homens ou
mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada
sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais
e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem
encarnasse só saberia o que sabem os homens”.
Logo, os Espíritos, na profundidade do termo, não
têm sexo como entendemos da organização física. O sexo se apresenta no
perispírito diferenciando e, ao mesmo tempo, ajustando a matriz da carne como
homem ou mulher. No entanto, mesmo no perispírito, ele pode desaparecer pela
sublimação do Espírito.
No entanto, os Espíritos precisam progredir em
tudo, em cada sexo, para ganharem a experiência necessária que proporciona as
provações e os deveres especiais.
O Espírito Emmanuel, no livro Vida e sexo,
na psicografia de Francisco Cândido Xavier, no Capítulo 1 - Em torno do sexo,
ensina:
“Atendendo
à soma das qualidades adquiridas, na fieira das próprias reencarnações, o
Espírito se revela, no plano físico, pelas tendências que registra nos recessos
do ser, tipificando-se na condição de homem ou de mulher, conforme as tarefas
que lhe cabe realizar.”
Emmanuel, no Capítulo 21 – Homossexualidade,
esclarece:
“A
vida espiritual pura e simples se rege por afinidades eletivas essenciais; no
entanto, através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de
reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de
masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos
pronunciado, em quase todas as criaturas.
O
homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente
masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.
Em
face disso, a individualidade em trânsito, da experiência feminina para a
masculina ou vice-versa, ao envergar o casulo físico, demonstrará fatalmente os
traços da feminilidade em que terá estagiado por muitos séculos, em que pese ao
corpo de formação masculina que o segregue, verificando-se análogo processo com
referência à mulher nas mesmas circunstâncias.
Obviamente
compreensível, em vista do exposto, que o Espírito no renascimento, entre os
homens, pode tomar um corpo feminino ou masculino, não apenas atendendo-se ao
imperativo de encargos particulares em determinado setor de ação, como também
no que concerne a obrigações regenerativas.”
Portanto, Espíritos em pluralidade de existências
podem encarnam como homens ou mulheres e, no plano espiritual, ter essas
aparências pelo perispírito ao impulso do Espírito.
O Espírito André Luiz, no livro Evolução em dois
mundos, no Capítulo 12, em “Diferenciação dos sexos”, para a pergunta: Como
se iniciou a diferenciação dos sexos? O Espírito Benfeitor expressou:
“Os
princípios espirituais, nos primórdios da organização planetária, traziam, na
constituição que lhes era própria, a condição que poderemos nomear por ‘teor de
força’, expressando qualidades predominantes ativas ou passivas. E
entendendo-se que a evolução é sempre sustentada pelas Inteligências
superiores, em movimentação ascendente, desde as primeiras horas da reprodução
sexuada começou, sob a direção delas, a formação dos órgãos masculinos e
femininos que culminaram morfologicamente nas províncias genésicas do homem e
da mulher da atualidade.
Não
podemos esquecer, porém, que o trabalho evolutivo no aperfeiçoamento
fisiológico das criaturas terrestres ainda não foi terminado, prosseguindo,
como é natural, no espaço e no tempo.
Quanto
à perda dos característicos sexuais, estamos informados de que ocorrerá,
espontaneamente, quando as almas humanas tiverem assimilado todas as
experiências necessárias à própria sublimação, rumando, após milênios de
burilamento, para a situação angélica, em que o indivíduo deterá todas as
qualidades nobres inerentes à masculinidade e à feminilidade, refletindo em si,
nos degraus avançados da perfeição, a glória divina do Criador.
É
imperioso reconhecer, contudo, que não podemos, ainda, em nossa posição
evolutiva, formular qualquer pensamento concreto acerca da natureza e dos
atributos dos Anjos, nem ajuizar quanto ao sistema de relações que cultivam
entre si.”
André Luiz infere que a perda das características
sexuais, que definem o sexo masculino e feminino, ocorrerá, espontaneamente,
quando as almas humanas tiverem assimilado todas as experiências necessárias à
própria sublimação, rumando, após milênios de burilamento, para a situação
angélica.
Isso significa que, durante muito tempo, os
habitantes do mundo espiritual estão definidos como pertencentes a um dos dois
sexos, masculino ou feminino.
Supõe-se, então, que os Espíritos de elevada
hierarquia não revelem características sexuais distintivas, sobretudo quando
comparadas às do corpo físico.
Assim, pode-se verificar que o anjo não tem sexo,
porque como Espírito puro percorreu todas escalas espíritas evolutivas até
atingir a perfeição, sem a necessidade de mais reencarnar para adquirir valores
e atributos, quer sejam eles masculinos ou femininos.
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
EMMANUEL
(Espírito), na psicografia de Francisco Cândido Xavier. Vida e sexo. 27ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2021.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
LUIZ,
André (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Evolução
em dois mundos. 27ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.
MIRAMEZ (Espírito); na
psicografia de João Nunes Maia. Filosofia
espírita: comentários às perguntas de “O Livro dos Espíritos”. Volume IV.
1ª Edição. Belo Horizonte/MG. Editora Fonte Viva, 1988.
MOURA, Marta Antunes de
Oliveira de (Organizadora). Estudo
aprofundado da Doutrina Espírita: filosofia e ciências espíritas.
Livro V. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.

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