Criança precoce
Criança precoce
Esta reflexão abordará, sob a ótica da Doutrina Espírita, criança que
evidencia na infância atitudes, comportamentos, experiências, habilidades e
talentos, conhecidos como precoces para a pouca idade, com admirável capacidade
e aguçada inteligência em áreas dominadas por adultos.
Não será objeto desta reflexão a precocidade na infância de
comportamentos, sentimentos e atitudes como manifestações viciosas da
inferioridade do Espírito, oriundas de existências anteriores, pois conduziria
para outra temática. Mesmo porque, em certas crianças, o instinto precoce
poderá se revelar para os vícios como para as virtudes, com sentimentos inatos
de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram. O que
se tratará é a precocidade relacionada a um certo grau de evolução moral,
intelectual e espiritual.
Waldehir Bezerra de Almeida, no livro A criança: à luz do Espiritismo,
no Capítulo 7 - Criança precoce, expressa que a criança precoce é ... aquela
que apresenta habilidades e/ou quociente intelectual não compatíveis com a sua
idade cronológica. Precoce é toda criança que amadurece moral e
intelectualmente antes do tempo normal, que muito cedo demonstra capacidade de
realizar coisas que seriam próprias de crianças mais velhas ou mesmo de
adultos.
Em seguida, lista algumas características desse tipo de criança:
Linguagem precoce, com vocabulário avançado para sua idade;
- Habilidade de leitura e escrita em tenra idade;
- Ritmo de aprendizado rápido;
- Curiosidade e interesses diversos;
- Capacidade de concentração e boa memória;
- Habilidade em gerar ideias originais;
- Grande bagagem de informações sobre temas de interesse;
- Perfeccionismo na realização de tarefas, por isso prefere fazer
trabalho independente;
- Senso de justiça exacerbado, questionando regras e autoridade;
- Paixão por aprender, demonstrando persistência em tudo que faz;
- Lembranças de fatos que não se deram na vida atual;
- Sonhos bastantes lógicos e incomuns para sua idade.
O autor comenta: Por tudo isso, a precocidade ou a prodigalidade
em criança levanta muitos questionamentos por parte de pais, familiares e
educadores.
Waldehir Bezerra busca resposta no livro O que é o Espiritismo,
de Allan Kardec, no Capítulo 3, para a questão 118: -Qual a origem das
ideias inatas, das disposições precoces, das aptidões instintivas para uma arte
ou uma ciência, abstração feita da instrução?
Parte da resposta é: ... As ideias inatas são o resultado dos
conhecimentos adquiridos nas existências anteriores e que se conservaram no
estado de intuição, para servirem de base à aquisição de novas ideias. (...) Sendo
assim, podemos inferir que os filhos podem ser mais avançados moral e
intelectualmente do que seus próprios pais.
Nesse aspecto, em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, na
questão 197, se -Poderá ser tão adiantado quanto o de um adulto o Espírito
de uma criança que morreu em tenra idade, a resposta é: -Algumas vezes o
é muito mais, porquanto pode dar-se que muito mais já tenha vivido e adquirido
maior soma de experiência, sobretudo se progrediu.
Na pergunta seguinte, - Pode então o Espírito de uma criança ser mais
adiantado que o de seu pai? A resposta é: Isso é muito frequente. Não o
vedes vós mesmos tão amiudadas vezes na Terra?
Nesse aspecto, Waldehir Bezerra comenta: Ensinam os Espíritos que as
faculdades extraordinárias das crianças e sua elevação moral são conquistas do
Espírito em outras existências e que aquelas estão inscritas no seu
inconsciente profundo, ou seja, na memória espiritual, manifestando-se logo na infância.
A prodigalidade intelectual de certas crianças, voltadas para as ciências e
artes, não passa de lembranças do que já aprenderam em vidas pregressas.
E acrescenta: A pluralidade de existências esclarece racionalmente a
diversidade de caracteres e a diferença das aptidões entre as crianças, muitas
vezes sendo elas da mesma família.
Na mesma direção, no livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, em
Regeneração da Humanidade, temos noção do choque de gerações em que se poderá
perceber diferenças de progressos moral e espiritual no período de transição
planetária:
As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e modos de ver
inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo
pelas disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir à qual das
duas pertence cada indivíduo.
Tendo de fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue
por uma inteligência e uma razão, em geral, precoces, juntas ao sentimento
inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo
grau de adiantamento anterior. Não se comporá tão-só de Espíritos eminentemente
superiores, mas de Espíritos que, já tendo progredido, estão predispostos a
assimilar as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.
Nessa mesma linha de pensamento, Waldehir Bezerra comenta: A criança
é um Espírito adulto, com erros e acertos, que retorna à carne para se
aperfeiçoar, fazendo o uso do livre-arbítrio. (...) Desse modo, a criança, na
ótica reencarnacionista, é um Espírito que traz consigo um patrimônio moral que
lhe marca a individualidade. Ela é portadora de uma aparelhagem física herdada
dos genitores, mas com o fantástico registro de experiências passadas, em
outros corpos, que ficaram gravadas no seu perispírito, corpo espiritual
indestrutível. Retorna o Espírito na condição de criança, esperançoso de sua
recuperação, na grande maioria das vezes, pela doação do amor e da energia
educativa dos seus pais.
Assim, não será difícil perceber, atualmente, em uma criança precoce a
eclosão de atitudes, comportamentos, experiências, habilidades e talentos que evidenciam
marcante estágio evolutivo de vidas anteriores, que as gerações mais antigas
somente realizaram bem mais tarde.
Contudo, por mais precoce seja o Espírito de uma criança, ela terá que
passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza, para cumprir o seu
caminho evolutivo.
Deus criou iguais todos os Espíritos, mas cada um destes vive há mais ou
menos tempo, e, conseguintemente, tem feito maior ou menor soma de aquisições.
A diferença entre eles está na diversidade dos graus da experiência alcançada e
da vontade com que obram, vontade que é o livre-arbítrio. Daí o se
aperfeiçoarem uns mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões
diversas. Necessária é a variedade das aptidões, a fim de que cada um possa
concorrer para a execução dos desígnios da Providência, no limite do
desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais. (Resposta à Questão 804 em O Livro dos Espíritos, de Allan
Kardec)
Além disso, ao Espírito cumpre progredir em ciência e em moral. Se
somente se adiantou num sentido, importa se adiante no outro, para atingir o
extremo superior da escala. Contudo, quanto mais o homem se adiantar na sua vida
atual, tanto menos longas e penosas lhe serão as provas que se seguirem. (Resposta
à Questão 192 em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec)
Bibliografia
ALMEIDA, Waldehir Bezerra de. A
criança: à luz do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2023.
KARDEC, Allan; tradução de
Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2019.

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