Encontros, desencontros e reencontros
Essa reflexão trata de encontros, desencontros e
reencontros relacionados a laços afetivos ou de desavenças em pluralidade de
existências por ação da providência divina, fazendo passar por experiências e
lições educativas em forma de provas e expiações para progredir moral e
espiritualmente.
Esse tema apoiou-se, basicamente, nos conteúdos das
seguintes fontes: O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Capítulo IV – Da
pluralidade das existências e Capítulo VII – Da volta do Espírito à vida
corporal; O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, Capítulo XIV –
Honrai a vosso pai e a vossa mãe; e O problema do ser, do destino e da dor, de
León Denis, Segunda Parte, O Problema do Destino, Capítulo XIII – As vidas
sucessivas – A reencarnação e suas leis.
Durante a existência física, não se tem noção e tampouco compreensão
dos motivos dos encontros, desencontros e reencontros, que impelem uns aos
outros para certas famílias ou vínculos de parentesco, amizade, grupos, lugares,
situações, circunstâncias e fatos, que chamamos indevidamente de acaso,
infortúnio ou fatalidade.
Pelo véu do esquecimento, ao nascer, o passado
existencial é apagado da memória do Espírito reencarnado, criando oportunidades
de corrigir e reparar faltas para evoluir moral e espiritualmente. Devido
a esse véu do esquecimento, o passado é um mistério.
Depois de certo tempo de vida, pode-se imaginar o passado
como se montasse um quebra-cabeça com peças de intuições, comportamentos,
atitudes, sonhos, revelações e vicissitudes, que poderão fornecer subsídios
para refletir sobre a vida presente.
Juntando as peças, o exercício mental será visualizar possíveis
relações afetivas ou de desavenças com determinadas pessoas e refletir acerca de
um passado que precisa ser entendido para construir um presente de apoio mútuo,
ajustes e reajustes perante as leis de Deus para prosseguir no caminho a que está
destinado.
Sem saber das escolhas no plano espiritual, o planejamento
reencarnatório motivou os encontros, desencontros e reencontros, pois ninguém
cruza o seu caminho ao acaso e você não entra na vida de alguém sem razão de
ser, pois em tudo há um propósito divino.
Evolução moral e espiritual
Deus cria todos os Espíritos simples e
ignorantes, com determinada missão, para chegar progressivamente à perfeição,
iniciando seus processos evolutivos em pluralidade de existências, passando
pelas provas que Deus impõe para se instruírem nas lutas e tribulações da vida
corporal, porquanto a conquista da felicidade não pode ocorrer sem esforço e
trabalho decorrente do próprio merecimento.
O Espírito encarnado está sob a
influência da matéria, porquanto esta influência é necessária para a sua
depuração e elevação, fazendo-o se aproximar dos bons Espíritos. Para tanto,
tem que dominar as paixões materiais próprias dos Espíritos impuros, que estão
mais próximos da natureza primitiva.
Enquanto não se depurar completamente,
sofrerá as provas de novas existências para experimentar as transformações
necessárias.
A vida corpórea proporciona ao Espírito,
mediante provas, oportunidades de depuração, aperfeiçoamento e transformação em
nova existência, em que as tribulações funcionam como espécie de cadinho, lugar
ou circunstância apropriada para aprender e adquirir os atributos morais
essenciais para o seu progresso.
Nessas experiências, o Espírito aprende
a diferenciar o bem do mal pelo uso consciente do livre-arbítrio para escolher
o melhor caminho a seguir.
A reencarnação é um determinismo divino
para que o Espírito chegue à perfeição. Para tanto, os Espíritos têm de sofrer
todas as vicissitudes da existência corporal.
Os laços de consanguinidade
Os laços de consanguinidade não são os
verdadeiros laços de união, mas sim os de simpatia, comunhão de almas e ideias,
que prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações.
Laços espirituais
Forças superiores, como atração magnética, aproximam uns aos
outros para cumprir as ações da providência divina, em que os laços espirituais
podem ser formados por Espíritos unidos pela afeição, simpatia e semelhança de
inclinações ou por desafetos, divididos por desavenças anteriores, servindo de
provação.
Arraigada em vidas passadas, a família é formada por
agentes diversos, que se encontram e reencontram, afetos e desafetos, para os
ajustes e reajustes indispensáveis.
Laços afetivos
Normalmente, os Espíritos são atraídos para determinada
família pela simpatia ou pelos laços afetivos que anteriormente se
estabeleceram, fazendo aumentar os deveres de fraternidade e ajuda mútua. Nesse
caso, a regra é de atração pela afinidade.
Esses Espíritos se sentem felizes de estar juntos e, pelos
laços afetivos, uns seguem os outros na encarnação para trabalharem pelo mútuo
adiantamento.
Às vezes, esses Espíritos são temporariamente afastados
uns dos outros e mudam de meio para adquirirem novas aptidões. Contudo, aqueles
que se amam tornam, cedo ou tarde, a encontrar-se na Terra ou no espaço.
Por conseguinte, a afeição espontânea por certa pessoa
explica-se facilmente, pois já se conheciam em outros tempos, porque o amor é
vínculo que nada pode destruir.
Laços de desafetos
De volta ao mundo espiritual, o Espírito leva
consigo virtudes, afeições, simpatias, mas também paixões, vícios e
ressentimentos da vida corporal.
As desavenças também criam laços entre os Espíritos, só
que de desafetos.
Em geral, o Espírito vítima tem dificuldade em perdoar seu
algoz, carregando os ressentimentos das experiências terrenas, abalando-o e podendo
motivar o desejo de vingança e perseguição, estimulando um processo obsessivo.
Os Espíritos em conflito ficam entrelaçados até a libertação
pelo perdão e pela reparação das faltas cometidas, que conduz para a
pacificação daquelas almas.
Na algema obsessiva, após certo tempo de sofrimento, o
Espírito reflete sobre a oportunidade de refazer o seu futuro para viver nova
chance de progresso.
O Espírito pedirá para reparar sua falta em outra
encarnação, aproveitando-se de um corpo em preparo para reencontrar a quem
detestou, a fim de se reconciliar, pois um ou outro odiou, foi ofendido ou um
dos dois foi o culpado.
Pelo contato com o desafeto, coloca-se em prova, podendo
superar as desavenças ou sucumbir se não tiver força de vontade.
Assim, será amigo ou inimigo daqueles com quem foi chamado
a viver. Isso explica certos ódios e repulsas instintivas, que aparentemente
são injustificáveis.
Se a causa da repulsa não se encontra nessa vida, torna-se
necessário olhar para o passado, antes desta existência, pois em todas as
coisas a causa deve anteceder o efeito e há necessidade de a alma já ter vivido
para que possa merecer uma expiação.
Nada acontece por acaso, pois atrás de
um acontecimento há uma razão de ser.
Assim, alguns reencontros são efeitos do
passado que desconhecemos.
O livre-arbítrio no planejamento reencarnatório
É possível pensar em certo determinismo na
vida, especialmente no que diz respeito a planejamento reencarnatório. Entretanto,
esse planejamento não é rígido, pois ele cuida das linhas mestras da
programação preparada para a nova experiência no plano físico, não se prendendo
a detalhes ou aspectos secundários.
A partir do momento em que se estabelece
um plano a ser executado em nova existência física, são acionados recursos,
condições e pessoas, encarnadas e desencarnadas, tudo para colocar em prática o
referido planejamento.
O ser, pelo livre-arbítrio, é construtor
do destino em seu processo evolutivo e, de acordo com suas disposições, pode
modificá-lo para melhor ou complicá-lo. A liberdade de ação é coerente com o seu
nível evolutivo, moral e intelectual.
O Espírito adiantado escolhe o meio onde
quer renascer, ao passo que o Espírito inferior é impelido por uma força que
obedece, mas todos são protegidos, aconselhados e amparados na passagem da vida
espiritual para a existência terrestre.
Antes de reencarnar, o Espírito escolhe
onde vai renascer, mas essa escolha é limitada, circunscrita e determinada por
causas múltiplas.
O passado orienta a vida em preparo, em
que as almas afins se juntam em novas provas.
Por outro lado, a relação de ódio entre
os desafetos também é força que os aproximam para apagar a antiga relação de ressentimento.
Assim, tornamos a reencontrar aqueles
que constituíram alegria ou tormento.
As vicissitudes da vida material
As vicissitudes da vida material
relacionam-se com acontecimentos do cotidiano, que muitos atribuem às
circunstâncias inesperadas do acaso que muda o rumo da vida.
As vicissitudes podem ter causas na
existência presente ou na vida passada, sendo frutos do caráter e do proceder
dos que as suportam.
As experiências da vida corporal,
chamadas de vicissitudes, permitem ao Espírito vivenciar as influências da
matéria, frutos de suas imperfeições e paixões, tais como: provas do poder, da
riqueza, da pobreza, da avareza, do egoísmo, do orgulho, da soberba, da inveja,
do ciúme, do apego material, da ingratidão, dentre outras tantas.
As vicissitudes trazem provas essenciais para o
Espírito acumular os tesouros sagrados nas experiências vividas, conectando
passado, presente e futuro, na busca da transformação íntima para internalizar
atributos divinos de forma mais sólida.
Enxergando o passado pelo presente
O renascimento
é novo ponto de partida, mais um degrau a subir.
Pelo
esquecimento do passado, surge um novo ser, por mais antigo que seja o seu
Espírito, adotando novos processos, auxiliado pelas suas aquisições anteriores.
Não entendemos
o porquê de determinadas circunstâncias, ocorrências, fatos e adversidades na
nossa vida, que refletem o passado existencial de cada um de nós.
Contudo,
podemos ter leve noção do que somos pelo que fomos em face das características
das provas e expiações da vida presente, despertando para a tarefa a ser
realizada que se apresenta diante de nós.
Se olhar para a vida atual pode-se ter uma
noção da nossa relação com o passado e uma ideia do que precisamos realizar
para reparar as faltas anteriores.
Podemos enxergar o passado pelo
presente, pois colhemos o que plantamos, cujos frutos das escolhas retornarão
como situações, pessoas ou coisas do que realizamos.
A grande família espiritual
Ao deixarmos a Terra, encontraremos os
Espíritos amigos de outras eras, aqueles com quem compartilhamos as vidas
passadas da família espiritual.
Os companheiros de viagem se reunirão
para nos acolher, porém já na plenitude de suas faculdades aumentadas e como
seres ativos, tomando parte na obra universal e cooperando em nossos esforços,
trabalhos e projetos.
Os laços do passado reatam-se com mais
força.
O amor, a amizade e o afeto de outras
existências estimularão novos compromissos para aumentar os sentimentos que
unem a todos.
E as tristezas dos desencontros passageiros
se converterão em felicidade pela dádiva divina do regresso e do reencontro daquelas
almas.
Bibliografia:
KARDEC, Allan; tradução de Guillon
Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
DENIS, León. O problema do ser, do destino e da dor. 32ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2017.

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