O autodespertar inadiável
Essa reflexão foi inspirada no livro
“Vida: desafios e soluções”, do Espírito Joanna de Ângelis na psicografia de Divaldo Pereira Franco, no
Capítulo 8, em “Autodespertamento Inadiável”, que trata
do despertar de cada ser humano proporcionado pelas sucessivas experiências vividas
em pluralidade de existências, como uma ação de acordar de um sono, em que o
acúmulo de bens eternos, mediante trabalho, esforço e serviço edificante, permite
entrar em sintonia com a consciência cósmica.
O texto de
Joanna de Ângelis foca o autodespertar, indicando que o ser humano, quando
compreende que está dormido para a sua realidade, inicia um processo consciente
de acordar, partindo do interior para o exterior. Isso porque as pessoas,
normalmente, estão convencidas de que estão despertas e não dormentes para a
essência da vida.
A fase inicial da vida espiritual
A fase inicial da vida espiritual do ser
humano é do estado de sono da consciência de sua realidade e dos desafios para
a conquista do si, dormindo nas sensações perturbadoras das paixões primitivas.
Na infância espiritual,
o Espírito é movido pelo instinto de sobrevivência e não tem plena consciência
de si e o livre-arbítrio e a liberdade de escolha são pouco desenvolvidos.
A liberdade de
escolha, entre o bem e o mal, desenvolve-se à medida que o Espírito vai
adquirindo inteligência, atributos morais e consciência da sua realidade.
O Espírito permanece
por longo tempo nessa fase, mas prossegue com capacidade intuitiva, adquirindo
novas experiências.
O anseio de melhorar e o despertar
Pela dinâmica
evolutiva, o Espírito é movido pelo anseio de melhorar sempre na construção dos
progressos moral e espiritual, porque todos os seres estão destinados à
sintonia com a consciência cósmica, aguardando os fatores que propiciem o contínuo
despertar, que liberta a consciência para realidades transcendentais da vida e auxilia
abandonar as paralisias das faixas inferiores.
Somos um mundo
interior, local de transformação, renovação e progresso, na batalha do bem
contra o mal, com ritmo evolutivo próprio condizente com o estágio alcançado.
O anseio de melhorar é chamamento para
reforma íntima que requer mergulho na realidade do mundo interior para identificar
o que precisa trabalhar em face dos vícios dominantes, os recursos disponíveis pelas
virtudes conquistadas e as possibilidades de libertação para conseguir o progresso
moral e espiritual.
A maior dificuldade desse processo é
abandonar hábitos viciosos e adotar novos comportamentos edificantes.
A necessidade de despertar
Depois de certo tempo, no ser dotado de alguma
evolução intelectual, moral e espiritual, o despertar torna-se inadiável,
consistindo na sua transformação, abandonando a dormência reinante das próprias
realidades, na conquista de si mesmo para a lucidez de seus compromissos com a
vida e o crescimento interior.
Meios para descobrir e conhecer a sua
realidade
O autodescobrimento conduz ao interior
desconhecido, penetrando-o, explorando-o e desvendando a sua personalidade que
deve progredir.
O autoconhecimento permite identificar atitudes,
comportamentos, virtudes, atributos, vícios e sentimentos, que podem abrir caminho
para a conscientização dos deveres e das responsabilidades a desempenhar para uma
vida edificante na prática do bem.
Consciência de si mesmo
A conscientização de si mesmo permite
vivenciar, experimentar e compreender aspectos do seu interior e perceber o
mundo em que vive, dentro da relação do “eu” com o ambiente em sociedade, para
realizar avaliação crítica do que é moralmente certo ou errado.
Joanna de Ângelis, em seu texto, elenca
alguns atributos comportamentais que devem ser desenvolvidos para o
autodespertar, o que faremos a seguir.
Equilíbrio
Buscar o equilíbrio, harmonizando aspirações,
anseios, ações, comportamentos e emoções pelo que se deve fazer ou não, sem
conflito e ansiedade, e com paciência.
É a capacidade de reconhecer e gerenciar
as próprias emoções de forma saudável, em um estado de bem-estar psicológico
que permite lidar com os desafios da vida.
Pelo equilíbrio, criam-se hábitos e
comportamentos como resultado do enfrentamento de aspirações, lutas e desafios
que estabeleceram condições para nova realidade e novo rumo na existência,
superando condicionamentos perturbadores dos instintos imediatos.
A vontade de mudar
A vontade deve ser direcionada para sair
da situação atual e buscar outra direção, em que a transformação desejada precisará
ser consciente para gerar novos condicionamentos e estabelecer diferentes atitudes.
A paciência
A paciência faz compreender que todo
trabalho começa, mas não pode terminar de imediato, porque conquistada uma
etapa surge outra desafiadora. Por ela, afasta-se a pressa sem se afligir
quando não se consegue concluir o trabalho.
No inconsciente, são criados
condicionamentos a favor da faculdade de esperar, aquietando ansiedades
perturbadoras e criando estado de equilíbrio emocional, mas exige treinamento,
constância e fé na capacidade de realizar o trabalho.
A perseverança
A perseverança disciplina a vontade,
porque apresenta pertinácia e insistência no que se pretende executar, sem
interromper o curso programado.
É uma conquista da consciência desperta
no esforço de perseverar nos objetivos elevados, que tira da paralisia
intelectual e moral do mundo íntimo.
A perseverança possibilita focar o
processo desenvolvido até o fim, sem desânimo.
A autoconfiança
A autoconfiança traz a certeza das
possibilidades que podem ser aplicadas em favor dos anseios íntimos, fazendo
desaparecer o medo e os mecanismos autopunitivos e autoafligentes, que são obstáculos
ao progresso e à evolução do ser.
Ela faz a vontade ser comandada por uma mente
saudável, que discerne entre o que deve e pode fazer, quais são os objetivos existenciais
e como amadurecer emocionalmente para enfrentar as vicissitudes e as
dificuldades para o crescimento interior.
Com autoconfiança, não se deseja
triunfar sobre os outros, conquistar o mundo, tornar-se famoso, conduzir as
massas, ser adorado, porque sua luta é para conquistar-se e realizar-se
interiormente, de cujo esforço virão outras posses.
Tolerância, respeito e perdão
A tolerância faz aceitar as diferenças e
as individualidades das pessoas, afastando os preconceitos e a segregação,
reconhecendo o valor e os sentimentos delas.
O respeito conduz a tratar as pessoas
com consideração, atenção e deferência, sendo fundamental para a convivência em
sociedade.
O perdão liberta a alma dos
ressentimentos que criam algemas de ódio, vingança e perseguição, que
aprisionam os seres até a pacificação.
Os frutos do perdão são: restauração do
amor, reconciliação, libertação do passado, paz na alma, amadurecimento
espiritual e mansidão.
Tolerância, respeito e perdão conduzem
para ações fraternas com laços de paz.
Os benefícios do despertar consciente
Quando se está desperto consciente de si
mesmo, os infortúnios, as dores, as aflições e os sofrimentos da vida são
lições educativas para o Espírito adquirir os tesouros celestiais e superar as
faixas psíquicas inferiores em que se encontra.
Os conflitos que surjam não mais
constituem razão de desequilíbrio ou perturbação, mas sim oportunidade de
ampliar a capacidade de entender, solucionar e crescer, porque seu futuro é a
conquista de si mesmo.
A seguir,
veremos as parábolas do semeador e do filho pródigo que trazem algumas lições de
despertar para as nossas vidas.
Parábola do semeador
A parábola do
semeador ensina sobre o despertar do ser humano quando recebe as sementes do
amor divino lançadas pelo Cristo em solo fértil, que conduz a germinar e
desenvolver a boa árvore e, no futuro, produzir bons frutos, tornando-se
instrumento nas mãos de Deus.
Os quatro
campos de semeadura simbolizam os diferentes tipos de mentalidades até chegar
ao amadurecimento moral e espiritual.
O recebimento
da semente é convite para despertar mediante uma reforma íntima pela renovação
e regeneração na experiência terrena.
Parábola do filho pródigo
Pela parábola,
compreende-se que provações e vicissitudes da vida contribuem para despertar o
Espírito da realidade em que se encontra.
O filho
pródigo quis viver prazeres da vida material, solicitando ao pai a sua parte da
herança, o que foi atendido e, depois, partiu.
Longe do pai,
conheceu a realidade, enfrentando desilusões e sofrimentos, que lhe forneceram
lições retificadoras.
Arrependido,
consciente do seu estado, retornou à casa do pai na busca de bens mais
elevados, conduzindo-o à transformação em sua caminhada.
Começo de novo ciclo de evolução
Pela conquista
de si mesmo mediante aquisições de atributos e valores em pluralidade de
existências, o Espírito imortal começa a se descobrir, conhecer e ter consciência
dos desafios a serem superados para avançar em seu processo iluminativo que
conduz para as ações fraternais universais.
A busca dessa
realidade é direcionada para o mundo interior, no qual mergulha para superar as
paixões perturbadoras e sensações primitivas.
O novo ciclo
de evolução começa pelas conquistas edificantes e pelo abandono dos sentimentos
inferiores, rumando pelo caminho da verdade e da vida em direção ao Pai, tendo
Jesus como modelo e guia em sua vida.
Bibliografia:
AUTORES DIVERSOS. Parábolas de Jesus à Luz da Doutrina Espírita. 2ª Edição. Juiz de
Fora/MG: Fergus Editora, 2019.
ÂNGELIS,
Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida:
desafios e soluções. 14ª Edição. Salvador/BA: Editora Leal, 2020.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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