O jejum espiritual
O
jejum espiritual
“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao
deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta
noites, depois teve fome; e, chegando-se a ele o tentador, disse: se tu és o
Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém,
respondendo, disse: está escrito: nem só de pão viverá o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus.” (Mateus, 4: 1-4.)
Jesus disse: “Eu sou o pão da vida. (...) Este
é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra. Eu sou o pão
vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão
que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” (João, 6: 48 e
50-51).
“O fariseu, em pé, orava no íntimo: Deus, eu te
agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros;
nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de
tudo quanto ganho.” (Lucas, 18: 11-12.)
“E, quando jejuardes, não vos mostreis
contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos
homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não
pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,
que vê em secreto, te recompensará publicamente.” (Mateus, 6:
16-18.)
“Jesus repreendeu o demônio; este saiu do menino
que, daquele momento em diante, ficou curado. Então os discípulos
aproximaram-se de Jesus em particular e perguntaram: Por que não conseguimos
expulsá-lo? Ele respondeu: porque a fé que vocês têm é pequena. Eu asseguro
que, se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a
este monte: vá daqui para lá, e ele irá. Nada será impossível para vocês, mas
esta espécie só sai pela oração e pelo jejum.” (Mateus,
17: 18-21.)
Muitos
realizam jejum de alimentos para exames laboratoriais, em dietas saudáveis, nas
práticas exteriores e religiosas ou por outro motivo.
Contudo,
não abordaremos esses tipos de jejuns materiais, mas sim buscaremos refletir
sobre o jejum moral, da alma, do Espírito encarnado ou espiritual, que conduz à
necessária introspecção para não se alimentar de ressentimentos, sentimentos
inferiores, paixões viciosas e tentações que nos desviam dos caminhos da fé
inabalável, do bem, da caridade, da cura e da libertação da alma. Isto porque “nem
só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mateus,
4: 4). Logo, a força moral do Espírito encarnado decorre do jejum da alma.
No ser
integral, constituído de corpo físico, Espírito e perispírito, temos o alimento
do corpo, para a nossa sobrevivência e saúde físicas, e o da alma, para
impulsionar a nossa evolução moral e a saúde espiritual. Assim, há diferença
entre o jejum do corpo e o jejum espiritual, o que veremos a seguir.
Antônio Luiz Sayão, em “Elucidações evangélicas: à luz da Doutrina
Espírita”, esclarece: “A alimentação material é necessária ao homem, isto é,
ao Espírito encarnado em corpo material. Quando, porém, tem de penetrar num
mundo superior, onde os corpos dos respectivos habitantes não são carnais como
os nossos e sim de natureza perispirítica, o Espírito se incorpora
fluidicamente. A sua nutrição aí, para a vida do corpo de que se acha
revestido, opera-se pela absorção dos fluidos ambientes, apropriados àquele
efeito ...”. Por conseguinte, o
alimento do Espírito em evolução para ascender ao mundo mais elevado não é
material.
Jesus
disse: “Eu sou o pão da vida” (João, 6: 48). Mas, a que pão o Mestre se
referia?
Na história
da Humanidade, o pão sempre representou o alimento básico que nutre o corpo
físico e mantém a vida humana. Mas “o pão da vida” de Jesus Cristo tem um
sentido espiritual, sendo o alimento essencial que nutre a fé, a esperança e dá
sustento moral ao Espírito. É o pão que sacia a fome espiritual dos que se
aproximam do Mestre, suprindo-os fartamente em harmonia, equilíbrio, bom ânimo
e força moral.
Em nossas
existências, sempre estamos alimentando-nos de sentimentos e paixões
inferiores, pensamentos negativos, de tudo aquilo que contamina a saúde do
Espírito, causando quedas morais, doenças, sofrimentos, obsessões, dentre
outras. Daí a importância de orar e realizar o jejum espiritual contra as
imperfeições que ainda possuímos.
Na época de
Jesus, os fariseus realizavam o jejum de alimentos para sustentar as suas
hipocrisias, colocando-se em evidências por meio de práticas exteriores,
acreditando estar cumprindo as leis de Deus, mas se esqueciam de fazer o jejum
dos maus pensamentos, das palavras que ferem os semelhantes e das ações
contrárias ao bem.
A respeito da prática de jejum material pelos fariseus no Evangelho de Mateus (6: 16-18), Antônio Luiz
Sayão, em “Elucidações evangélicas: à luz da Doutrina Espírita”, esclarece:
“Nenhum mérito tem aos olhos de Deus o que a criatura faça por
ostentação, para ser vista, apreciada e louvada pelos homens.
Jesus aconselhava e os seus mensageiros presentemente aconselham o
jejum, mas o jejum espiritual, que consiste na abstenção de todo mal, isto é,
de todo mau pensamento, de toda má palavra, de todo ato que nos degrade aos
olhos do nosso Criador. Jamais façamos consistir a prática do amor a Deus e ao
próximo, mandamento que encerra toda a lei e os profetas, como o disse o Mestre
Divino, na observância daquela e de outras formalidades idênticas, que nada
valem, porque em nada concorrem para a melhora espiritual das criaturas”.
Interpretando outras passagens evangélicas (Mateus, 15: 1-20; e
Marcos, 7: 1-23), Antônio Luiz Sayão comenta:
“O ensino de Jesus mostra que todos os preceitos relativos aos
alimentos, à natureza destes, à prática do jejum material e das privações
corporais, destituídos de utilidade e proveito para o próximo, são vãs e
inúteis aos olhos de Deus, a quem só há um jejum agradável: o jejum moral,
espiritual, que o Divino Pastor recomendou às suas ovelhas e que consiste na
abstenção de tudo o que seja mal, isto é, de tudo o que, nos pensamentos, nas
palavras e nos atos, seja contrário à lei divina, evangelicamente revelada, de
justiça, de amor, de caridade e fraternidade”.
No mesmo sentido, acerca da oração e do jejum para expulsar o
“demônio” de um menino, que os discípulos não lograram êxito, no Evangelho de Mateus (17: 18-21), Antônio Luiz Sayão nos dá a
explicação:
“A fé, alavanca poderosa, capaz por si só de levantar o mundo,
constitui o meio único de que podemos lançar mão eficazmente para afastar os
Espíritos atrasados e sofredores. Da fé nasce a prece que, se, além de
fervorosa e perseverante, é acompanhada do jejum espiritual, acaba sempre por
tocar o Espírito culpado, o esclarecer e encaminhar para a verdade. (...)
O jejum que Jesus nos recomendou consiste em nos abstermos de
pensamentos culposos, inúteis, frívolos mesmo; em sermos sóbrios na satisfação
das nossas necessidades materiais, reservando o supérfluo para o repartirmos
com os nossos irmãos a quem falte o necessário; em sermos sinceros na modéstia,
na regularidade dos costumes, na austeridade do proceder.
Tais são o jejum e a prece que expelem os ‘demônios’ da pior
espécie, os ‘demônios’ que nos tornam cegos, surdos e mudos”.
Por tudo isso, além da dieta saudável tão necessária para o corpo
físico, devemos realizar o jejum espiritual, não permitindo ingerir os
alimentos contrários às leis de Deus que contaminam a moral do Espírito,
estagnando o nosso processo evolutivo na busca da perfeição.
Para tanto, precisamos nos alimentar do “pão da vida”,
representado pela Palavra, pelos ensinamentos e exemplos do nosso Mestre Jesus,
seguindo as suas pegadas pelo caminho da verdade e da vida em direção ao Pai.
Bibliografia:
BIBLIA
SAGRADA.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
Sayão, Antonio
Luiz. Elucidações evangélicas: à luz da
Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.

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