Os desígnios de Deus
Os
desígnios de Deus
A palavra desígnio pode significar plano, projeto, intenção, propósito
ou vontade.
Jesus, na oração do Pai Nosso, resumiu os deveres do ser humano para com
Deus, consigo mesmo e com o próximo, ensinando a necessidade da submissão plena
aos desígnios do Pai: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na
terra como no céu” (Mateus, 6: 10).
Para a Doutrina Espírita, Deus é inteligência suprema, causa primária de
todas as coisas. Por conseguinte, o propósito de Deus é causa primária de toda
criação.
A inteligência suprema do Criador, mediante leis eternas, imutáveis e
infinitas, permeia o Universo inteiro em completa ordenação, harmonia e
estabilidade, demonstrando um poder onipotente, acima de tudo que existe.
Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, na questão 4, explica: “Para
crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo
existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo
efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.”
Na questão 8, Kardec esclarece: “A harmonia existente no mecanismo do
Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo,
revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é
insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a
inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.”
Assim, o Universo, em plena harmonia, mediante leis eternas, imutáveis e
infinitas, cumpre os desígnios da inteligência suprema, cuja presença de Deus é
percebida por suas obras, pois não há efeito sem causa, e todo efeito
inteligente tem causa inteligente.
Para o Espiritismo, há solidariedade entre matéria e inteligência na
propagação do pensamento do Criador Supremo sob a forma de fluido inteligente,
que irradia e atua em todo o Universo, penetrando todas as partes da Criação.
Isso porque, todos os seres do infinito e a natureza inteira encontram-se
mergulhados no fluido cósmico universal. Tudo no Universo está conectado,
compondo um todo solidário.
Por essa rede inteligente universal, Deus está em toda parte. Todos os
elementos da criação estão em relação constante com Deus, tornando-o onisciente
de tudo o que se passa e supre a cada um o que lhe diz respeito.
O Espírito André Luiz, no livro “Evolução em dois mundos”, na Primeira
parte sobre fluído cósmico, traz luz ao conhecimento de que as inteligências
divinas ligadas ao Criador Supremo, ao seu comando e influxo, em perfeita
fidelidade e comunhão, mergulhadas no plasma divino, cooperam com o Criador na
construção dos sistemas do Universo, convertendo-os em habitações cósmicas, por
meio de um serviço de cocriação no plano maior, tornando-os também agentes
colaboradores da Criação.
Essas Inteligências ligadas ao Criador, obedecendo às leis de Deus,
podem formar ou cocriar, mas somente Deus é o Criador de toda a eternidade.
Em um plano menor, cada um de nós, também sob os desígnios de Deus, é
importante para o todo, pois, fazemos parte da construção universal e estamos
mergulhados no mesmo oceano fluídico cósmico universal. Assimilando e
expressando o pensamento do Criador, cada criatura é detentora de uma
capacidade intrínseca de cocriação em um plano menor, inerente à faculdade de
pensar, através da qual absorve a força emanante de Deus, moldando-a, à sua
vontade, e influenciando, dessa forma, a própria criação.
Logo, cocriar, em plano menor, é o poder que todos temos, segundo a lei
universal, à semelhança das inteligências maiores, para cocriar, moldando ou
plasmando mundos e moradas, de encarnados e desencarnados, que poderão ser
habitações de luz, transformando todo mal de nossa autoria no bem que edifica
pelo eterno princípio do amor divino, ou habitações de sombra, geradas por
mentes desequilibradas ou criminosas mergulhadas na purgação infernal.
Por essas revelações, Jesus, como integrante da comunidade de Espíritos
puros eleitos pelo Senhor supremo do Universo, Diretor angélico do orbe
terrestre, é a mais perfeita expressão do verbo divino para a Terra,
identificado com a sua misericórdia e sabedoria, desde a organização primordial
do planeta. Tudo isso comprova os valores divinos de Jesus da mais alta
hierarquia espiritual, que se fez carne como Enviado de Deus, representação do
Pai junto ao rebanho dos filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria.
Jesus é o caminho, a verdade e a vida em direção ao Pai, exemplo de perfeição
moral que a humanidade pode pretender, cuja doutrina é a mais pura expressão da
lei divina.
Assim, inseridos nos desígnios de Deus, temos que cumprir o determinismo
divino na construção do nosso destino na busca da perfeição em pluralidade de
existências e cooperar com a regeneração da humanidade, tendo Jesus como modelo
e guia para as nossas condutas do dia a dia.
Nesse contexto de determinismo evolutivo, o Espírito imortal necessita
adquirir todas as virtudes e aptidões pela prática do bem, do amor e da
caridade, concorrendo para a execução dos propósitos divinos, no limite do
desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais, em que cada um tem seu
papel a desempenhar, sendo solidário coletivamente para o progresso geral.
Por conseguinte, os acontecimentos da vida, acompanhados de provas e
expiações, ocorrem em decorrência da vontade de Deus, desígnios quase sempre
incompreendidos e impenetráveis.
Na prática do bem, do amor e da caridade, os verdadeiros laços afetivos
entre os seres humanos se darão pela prática da fraternidade universal, que se
fortalecem pela purificação moral e espiritual, perpetuando-se no mundo dos
Espíritos, através das várias migrações da alma.
Nada será superado sem esforço, sacrifício e renúncia. Em todos as
circunstâncias, devemos submeter-nos à vontade de Deus, suportar com coragem as
tribulações da vida, sem queixas, em particular quando for imposto uma
separação física ou espiritual de um ente querido.
Como seres imperfeitos que somos, é muito difícil compreender os
desígnios de Deus, que são eivados de justiça, bondade, misericórdia e
sabedoria para todos os seres do Universo. Eles vão muito além do nosso ínfimo
entendimento.
Em certas circunstâncias da vida, não se cumprirá o que lhe foi
atribuído sem renunciar em obediência à vontade de Deus, compreendendo os seus
desígnios, os quais são necessários para a edificação do reino de Deus, devendo
ser a principal preocupação.
O Cristo em sua missão na Terra, até o martírio na cruz, ensinou e
testemunhou o amor divino, o sacrifício e a renúncia plena, em especial durante
o seu calvário e a crucificação, diante da traição, da humilhação, da solidão e
do abandono a que foi submetido, inclusive dos seus discípulos.
Jesus passa para a Humanidade a lição de amor, fidelidade e comunhão com
o Pai, assim como a renúncia necessária para se edificar o reino de Deus dentro
de nós.
A ingratidão recebida por Jesus, após inúmeros benefícios
proporcionados, conduz a profundas reflexões sobre o seu sublime amor por todos
nós e a renúncia demonstrada a tudo que foi exposto.
O Mestre abriu novas perspectivas ao ser humano, estabelecendo novo
sistema de vida e melhoria no relacionamento entre as pessoas.
Em cada estágio da prática do amor divino, purificamos o coração das
nossas próprias imperfeições mediante as lutas renovadoras em várias
existências.
A cada experiência amorosa, sobe-se um degrau evolutivo. O amor a tudo
modifica, transforma, cura e regenera.
Não poderemos praticar o verdadeiro amor sem renúncia, pois essas
virtudes estão intimamente ligadas para suportar as provas e expiações da vida
e impulsionar a nossa evolução moral e espiritual, de acordo com os desígnios,
os propósitos e a vontade de Deus. Por isso Jesus disse: “Se alguém quer me
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. (Mateus, 16: 24;
Lucas, 9: 23; e Marcos, 8: 34)
Jesus exemplificou a prática do verdadeiro e puro amor divino,
demonstrando como renunciar em diferentes situações, com sacrifício e
sofrimento, para se galgar patamares mais elevados de evolução moral e
espiritual, em obediência à vontade e aos desígnios de Deus.
Nada é por acaso, a vida tem um sentido existencial. Tudo tem um motivo,
um propósito, uma finalidade e uma vontade divina na construção do nosso
destino e na cocriação de um mundo mais fraterno.
O caminho a ser percorrido será a prática do amor verdadeiro, puro e
divino, que faz evoluir o ser humano moral e espiritualmente.
Nesse processo evolutivo, encontraremos diversas situações
caracterizadas como provas e expirações, que exigirão fé, confiança, coragem,
esperança, esforço, sacrifício e renúncia de nós mesmos, acompanhados de dor e
sofrimentos, instrumentos educativos para a renovação e regeneração do
Espírito.
Essas situações exigirão renúncias ao egoísmo, ao orgulho, à vaidade, à
raiva, ao ódio, ao ressentimento, ao apego material, ao convívio familiar, ao
afastamento de um ente querido, a si mesmo, dentre outros tantos.
Renúncias que conduzirão para outros patamares de amor para conosco e
junto aos nossos semelhantes, mediante o serviço edificante do bem e da
caridade, em fidelidade e comunhão com os propósitos, os desígnios e a vontade
de Deus.
Assim, em todas as circunstâncias a que somos chamados para o serviço
edificante na construção do reino de Deus dentro de nós, será imprescindível a
prática do puro amor, induzindo-nos à renúncia de nós mesmos para que prevaleça
a vontade divina.
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