Os teoremas da incompletude de Gödel
Os
teoremas da incompletude de Gödel
Em matéria publicada na revista Super Interessante de novembro de 2020,
Bruno Vaiano apresenta “Os teoremas da incompletude de Gödel”, em que Kurt
Gödel, no ano de 1931, “... demonstrou que a aritmética sempre vai padecer
de uma das seguintes limitações: ou será incompleta (haverá teoremas que são
verdade, mas não podem ser provados) ou será inconsistente (haverá
contradições, como um teorema que é verdadeiro e falso ao mesmo tempo)” (p.
61).
O
articulista esclarece sobre axiomas e teoremas, assim como metodologia
científica: “Quando uma hipótese assim ganha uma prova, ela se torna teorema.
Uma coisa que sempre é verdade” (p. 62). Ele
descreve, ainda, que alguns cientistas da época desejavam dar resposta a todas
as incompreensões da Natureza.
Contrariando
o pensamento dominante, “... Gödel mostrou que qualquer conjunto
de axiomas consistente (que não dá origem a contradições) sofre de uma falha
fatal: ele dá origem a teoremas que não podem ser provados. Esse é o primeiro
teorema de Gödel. (...) O que dá um ar aterrorizante à coisa toda: como
ele pôde provar que existem coisas que não podem ser provadas?” (p. 64).
Vaiano
sintetiza: “O mais natural é pensar que ‘esta afirmação não pode ser
provada’ é uma afirmação falsa. Afinal, tudo pode ser provado. (...) Se a
afirmação fosse mesmo falsa, isso significaria que pode ser provada. Mas nós
sabemos que ela não pode. Afinal, a afirmação diz ‘esta afirmação não pode ser
provada’. Se ela não pode ser provada, então não pode ser falsa. Portanto, só
pode ser verdadeira. Esse é o primeiro teorema de Gödel: qualquer sistema de axiomas suficientemente rico para sustentar
a aritmética conterá uma afirmação verdadeira que não pode ser provada no
próprio sistema. Isso torna a aritmética incompleta” (p.
64).
Vaiano
destaca, ainda, que Gödel “... esboçou uma prova lógica
da existência de Deus, mas não a publicou com medo de ser mal interpretado” (p. 61).
Esse
artigo conduz a reflexões decorrentes dos teoremas da incompletude de Gödel de que a Matemática é incompleta diante de verdades que não
podem ser provadas ou inconsistente para compreender certos fenômenos da
Natureza que, como efeitos, têm as suas causas anteriores que deram
origem.
Para a doutrina espírita, Espiritismo e Ciência completam-se,
principalmente com os conhecimentos advindos das revelações espirituais
transmitidas por Espíritos superiores e das leis que regem as relações do mundo
corpóreo com o mundo espiritual, que são leis da Natureza, trazendo luz aos
fenômenos incompreendidos pelo homem.
Para o Espiritismo, o Universo não é só matéria, tem um princípio
inteligente regendo tudo que existe. Da ação simultânea dos princípios material
e inteligente, nascem fenômenos que são inexplicáveis se não considerar um dos
dois. Acima de tudo, está Deus.
“Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma
maneira que as ciências positivas, isto é, aplicando o método experimental.
Quando fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis
conhecidas, o Espiritismo os observa, compara, analisa e, remontando dos
efeitos às causas, chega à lei que os preside; depois, lhes deduz as
consequências e busca as aplicações úteis.” (KARDEC. A Gênese.
pg. 20, 2ª Edição, FEB, 2013.)
A Ciência Espírita veio a partir de Allan Kardec, que se dedicou de
corpo e alma ao trabalho científico de maneira incansável na elaboração da
Codificação Espírita, passando a analisar os fatos espíritas sob o rigor da
metodologia científica e dos princípios filosóficos.
Para garantir a veracidade, Kardec estabeleceu um controle universal dos
ensinos dos Espíritos pela universalidade e concordância de suas revelações, ou
seja, a garantia pela concordância das revelações dos Espíritos que eles façam
espontaneamente, mediante grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e
de vários lugares.
A doutrina espírita é dinâmica, acompanha o progresso humano, os avanços
da Ciência e a paulatinidade das revelações espíritas, conforme o nosso grau
evolutivo, como disse Jesus: “ainda tenho muito que vos dizer,
mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de
Verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas
dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” (João 16:
12-13).
Isso porque os Espíritos, pelo desenvolvimento da inteligência, do livre-arbítrio
e da moral, começam os seus processos evolutivos. Desde o início de sua
formação, o Espírito não goza da plenitude de suas faculdades. A inteligência
só pouco a pouco se desenvolve. Em cada nova existência, o homem dispõe de mais
inteligência e melhor pode distinguir o bem do mal.
O progresso moral acompanha o progresso intelectual, mas nem sempre o
segue imediatamente. O progresso moral segue o intelectual quando o Espírito
desenvolve o seu livre-arbítrio e começa a compreender o bem e o mal,
realizando escolhas corretas e tendo consciência das responsabilidades dos seus
atos. A moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a se
equilibrar, cujos avanços permitem absorver mais conhecimentos e verdades.
Por isso, o Espiritismo veio, na época predita, cumprir a promessa do
Cristo, e “Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas,
teria malogrado, como tudo quanto surge antes do tempo”. (KARDEC. A Gênese.
pg. 22, 2ª Edição, FEB, 2013.)
A doutrina espírita é produto da construção coletiva, formado pelo
conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um trazendo o tributo de suas
luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os
espera.
A
despeito das leis e verdades divinas reveladas até o momento, a exemplo dos
teoremas de Gödel, o Espiritismo tem as suas
incompletudes para certos fenômenos, cujas revelações acompanham a capacidade
evolutiva do ser humano para absorver certos conhecimentos. Das
incompletudes da doutrina espírita, podemos mencionar alguns exemplos.
“O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, na questão 1, traz a definição
de Deus: “... inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (pg.
36, 1ª Edição, FEB, 2019); mas alerta, na questão 3, que a linguagem humana é
pobre e insuficiente para se definir o que está acima da linguagem dos homens,
porquanto somente em um estágio evolutivo mais avançado é que poderemos ter uma
melhor definição de Deus.
Na questão 2, em “O Livro dos Espíritos”, infinito é “O que não tem
começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito” (p.
36). Em seguida, Kardec comenta na questão 3: “Deus é infinito em suas
perfeições, mas o infinito é uma abstração”. Da mesma forma para
eternidade, pois “Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá fim”.
(KARDEC. A Gênese, pg. 50, 2ª Edição, FEB, 2013.)
O Espiritismo prova a imortalidade do Espírito, mas a sua criação é
desconhecida. Na questão 83, em “O Livro dos Espíritos”, Kardec pergunta se os
Espíritos têm fim, pois para ele era difícil conceber como uma coisa que teve
começo não possa ter fim. A resposta dos Espíritos é que há muitas coisas que
não compreendemos, porque a nossa inteligência é limitada, mas não podemos
repelir a verdade, e encerra: “Dizemos que a existência dos Espíritos não
tem fim. É tudo o que podemos, por agora, dizer”. (KARDEC. O Livro dos
Espíritos, pg. 61, 1ª Edição, FEB, 2019.)
Assim, a doutrina espírita também tem as suas incompletudes diante de
certos fenômenos da Natureza, cujas verdades ainda não podem ser provadas, mas
que serão completadas conforme a nossa evolução intelectual, moral e
espiritual, que impulsionarão a capacidade de assimilação de novos
conhecimentos que suportarão o nosso progresso rumo à perfeição relativa à qual
a Humanidade está destinada.
Autor: Juan Carlos Orozco
Bibliografia
BIBLIA
ON LINE. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/16/12,13. Acessado em: 3 de dezembro de 2020.
KARDEC,
Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A
Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
VAIANO, Bruno. Revista
Super Interessante: Os teoremas da incompletude de Gödel. 421ª
Edição. São Paulo/SP: Abril Editora, novembro de 2020. (p. 60 a p. 65)

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