Cruz e cruzes
Cairbar Schutel, no livro “Parábolas e Ensino
de Jesus”, aborda esse tema usando o título “cruz e cruzes”, cuja passagem
evangélica identifica a cruz do Mestre Jesus e outras duas dos que foram
crucificados ao seu lado, em aparente semelhanças de sentidos para simbolizar
dores, sofrimentos, suplícios e martírios, mas com distinção entre uma e as outras
duas em contextos específicos de ensinamentos e exemplos para as nossas vidas.
Cruz
Cairbar Schutel esclarece que a cruz no singular
serviu de instrumento ao suplício do Mestre Jesus, como símbolo de torturas e
desventuras, emblema da malícia humana, invento satânico do ódio e da vingança,
que massacram corpos e espezinham almas.
Essa cruz traiçoeira
que é mãe de todas as outras cruzes, falseando a justiça e a misericórdia de
Deus, representando a maldição do atraso de mais de dois mil anos de progresso humano,
esmagando aqueles que cultuam os valores cristãos.
O Cristo tomou e carregou a sua cruz sem
queixa, deixando-se sacrificar, sem fazer qualquer reprovação aos que o haviam condenado
e abandonado.
Ele testemunhou, mediante exemplo de
resignação, obediência e submissão, como devemos agir diante da vontade de
Deus.
Essa cruz, símbolo da fé cristã, representa o
caminho a ser seguido em direção da evolução moral e espiritual.
Ao longo do tempo, essa
cruz deixa de ter o sentido de sacrifício, dor e morte para assumir o símbolo
de fé, confiança, coragem, consolo e esperança na ressurreição do Espírito
imortal para os verdadeiros valores da vida com Deus no coração.
O Cristo, aceitando a cruz do calvário pelo amor
a Deus e à Humanidade, revelou quão importante adquirir e praticar os
atributos, os valores e as virtudes dos bens celestiais para incluir na bagagem
evolutiva rumo à perfeição.
Jesus é modelo e guia de perfeição moral que
devemos seguir como roteiro de vida pelos seus ensinamentos e exemplos deixados
na Terra.
Cruzes
A respeito de cruzes, Jesus disse: “Se alguém quiser seguir meus passos,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, ensinando que devemos
suportar as dificuldades da vida, testemunhando a própria fé, pois aquele que
quiser salvar a vida e os seus bens materiais, rejeitando o Evangelho, perderá
as vantagens do reino dos Céus.
O Mestre convida todos à renúncia de si mesmo, carregar
a sua cruz e seguir seus passos com esforço, trabalho e sacrifício em direção
ao Pai.
Carregar a cruz que construímos, representada
pelas provas, expiações, dificuldades, desafios, dores e sofrimentos, que surgem
como oportunidades de aprendizado, renovação, transformação e regeneração no processo
evolutivo para a correção de rumo.
Existem situações que consideramos provas
difíceis, cruzes pesadas demais pela dificuldade em aceitá-las, tais como:
conflitos na família, preconceitos na sociedade, doenças prolongadas, injustiça
aparente, ingratidão dos amigos, dificuldade financeira etc.
No entanto, Deus não coloca fardos pesados em
ombros fracos, ou seja, não nos coloca dificuldades e sofrimentos maiores do
que possamos suportar. O fardo é proporcional às nossas forças, assim como a
recompensa será conforme a nossa resignação, coragem e mérito.
É preciso abandonar os vícios reinantes para se
converter em discípulo do Senhor.
Vinicius, no livro “Nas pegadas do Mestre”, em
“As três cruzes”, ensina:
“Naquele
dia, três cruzes foram levantadas no cimo do Calvário. A do meio sustinha
Jesus, o Cristo, cujo crime, como é sabido, consistiu em ensinar ao povo a
doutrina da igualdade de direitos perante a lei natural e divina, que mana de
Deus. As laterais justiçavam, respectivamente, à direita e à esquerda, o bom e
o mau ladrão.
Esses
três supliciados são, ao mesmo tempo, três realidades históricas e três
símbolos.
Jesus
Crucificado é a imagem do amor e da dor, elementos que, conjugados, determinam
e promovem a evolução dos homens. É a figura da justiça aliada à misericórdia.
O bom
e o mau ladrão representam a Humanidade pecadora em sua generalidade. O
primeiro, reflete com admirável justeza os pecadores confessos, as almas
simples, compenetradas de suas faltas, que suportam os sofrimentos e as
angústias da existência com resignação e humildade, sem murmúrios nem revoltas,
porque veem nessas vicissitudes o efeito das causas criadas por elas próprias.
Crendo firmemente na justiça, tiram preciosos ensinamentos das provações cuja
aspereza é amenizada pela maneira com que são recebidas.
O
segundo espelha com notória fidelidade os pecadores relapsos, impenitentes e
orgulhosos, que recebem a dor revoltados, murmurando e blasfemando. Descrendo
do amor e da justiça, julgam-se vítimas de inexorável iniquidade, pois se
consideram isentos de culpa, vendo-se através do orgulho que lhes oblitera o
entendimento e ofusca a razão.
A
Humanidade compõe-se de Dimas e de Giestas, isto é, de pecadores humildes que,
reconhecendo-se culpados, fazem da cruz instrumento de redenção; e de pecadores
orgulhosos que murmuram e blasfemam continuamente, contorcendo-se e escabujando
na cruz que, para eles, não passa do que realmente é: instrumento de suplício.”
Em outro texto, Vinicius, em “A atração da cruz”,
esclarece:
“A
cruz, de instrumento de suplício, tornar-se-ia ímã de amor. Mas, como se sabe,
o ímã só atrai elementos que com ele tenham certa afinidade. É indispensável
haver correspondência entre o corpo que atrai e o corpo que é atraído. Da mesma
sorte, é mister que o nível moral do homem irreconhecido suba, que os
sentimentos se afinem e se depurem no cadinho da dor, para que ele compreenda a
natureza daquela obra de redenção consumada na cruz do Calvário, em seu
benefício.
Desde
que comece a reconhecê-la, ele irá sentindo necessidade de manifestar seu
reconhecimento por aquele que o amou muito antes de ser amado, até que,
dobrando os joelhos, se prostrara, como o Leproso Samaritano, aos pés do seu
maior benfeitor e salvador – Jesus Cristo, rendendo-lhe assim o inalienável
preito de imensa e imorredoura gratidão.”
Ainda Vinicius, no mesmo livro, em “A Paixão do
Cristo”, expressa que Jesus é a redenção humana e a Humanidade não deve a sua
salvação à cruz em si, mas ao amor do Cristo.
Não se deve adorar o madeiro e tampouco a morte
de Jesus para a redenção, mas sim a vida, a palavra de vida eterna e os seus ensinamentos
e exemplos.
A morte de Jesus ocorreu pela vontade humana,
enquanto que a obra da salvação do mundo obedece aos desígnios de Deus. São
coisas bem diferentes.
Jesus vive em plena atividade e continua
trabalhando e agindo, sublime, forte e poderoso junto a todos os corações e não
crucificado e estagnado em algum lugar do espaço.
A sua mensagem de amor permeia a todos,
convidando-os a seguir suas pegadas no caminho da verdade e da vida eterna em
direção ao Pai.
Por tudo isso, se quiser seguir Jesus, renuncie
a si mesmo, tome a sua cruz e siga-o.
Bibliografia:
BIBLIA
SAGRADA.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.
VINICIUS.
Nas pegadas do mestre. 12ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2014.

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