O Filho do Homem e o Filho de Deus

 


O Filho do Homem e o Filho de Deus

 

Nos Evangelhos, a expressão “Filho do Homem” aparece com certa frequência, usada por Jesus para referir a si mesmo, demostrando a sua identificação com a Humanidade como guia e modelo de perfeição que podem aspirar os seres humanos em seus processos evolutivos de transformação, renovação, regeneração e progresso moral e espiritual mediante provas, expiações, lições e aprendizados no orbe terrestre.

Já o termo “Filho de Deus” é menos usado nos Evangelhos para descrever a autoridade do Cristo que faz parte da comunidade de Espíritos puros eleitos por Deus e a sua submissão e comunhão plena com o Pai, assim como a natureza divina de sua missão na Terra, como governador do planeta desde a sua criação, como mencionado no Evangelho de João: “No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele; e nada do que foi feito, foi feito sem Ele” (João, 1: 1-3).

Jesus, como integrante da comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor supremo do Universo, é a mais perfeita expressão do verbo divino para o orbe terrestre, identificado com a sua misericórdia e sabedoria, desde a organização primordial do planeta. Tudo isso comprova os valores divinos de Jesus da mais alta hierarquia espiritual, que se fez carne, Filho ungido de Deus, como seu Enviado, representação do Pai junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, e Diretor angélico do orbe terrestre.

Jesus é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo, ou seja, exemplo de perfeição moral a que pode pretender a Humanidade na Terra, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da lei divina.

Por tudo isso, Jesus Cristo, como governador do orbe terrestre, quer na Terra como no Céu, sempre esteve e estará conosco todos os dias até a consumação dos séculos, quando presidirá as transformações da transição do planeta, auxiliado por seus servidores diretos, os Espíritos puros ou “anjos”, prepostos celestiais, que contam com o apoio de Espíritos esclarecidos, benfeitores e entidades amigas.

No livro “Obras póstumas”, em “Estudo sobre a natureza do Cristo”, no item IX – “O Filho de Deus e o Filho do Homem”, Allan Kardec expressa que “Filho de Deus”, utilizado por Jesus, indica submissão ao Criador e não igualdade a Deus, pois para essa última colocação seria preciso que o Mestre existisse de toda a eternidade e não fosse criado.

O Cristo como criação de Deus subordina-se ao seu Criador, passando a ideia de filho, chamando-o de Pai.

Jesus é o filho bem-amado de Deus por sua perfeição, identidade e comunhão plena com o Pai, possuindo autoridade divina com toda a sua confiança e afeição.

A expressão “filho único” é usada para designar o Messias predestinado a desempenhar a sua missão na Terra.

Kardec complementa que Jesus denominou-se “Filho do Homem” para expressar que pertence à Humanidade, confirmando o que diziam os antigos profetas.

No fim, Kardec alerta que muitos preferem discutir a natureza de Jesus com Deus, esquecendo-se das virtudes que Ele ensinou e exemplificou.

Vinicius, no livro “Nas pegadas do Mestre”, em “O Filho do Homem”, escreveu:

“Deus em tudo se manifesta, em tudo se revela. A Vida, através da criação infinita, o reflete, em suas modalidades sem fim.

Contudo, há gradações variadíssimas nessas manifestações. O homem, rei da criação, no que respeita às obras deste mundo, oferece tonalidades múltiplas da manifestação da Divindade. A Bíblia diz que ele foi criado à imagem e semelhança de Deus: e diz uma verdade. No entanto, essa imagem se ostenta mais ou menos positiva, mais ou menos fiel, segundo o estado moral de cada um de nós.

A alma humana pode ser comparada a um espelho cuja face refletirá a imagem de Deus tanto melhor quanto mais polida e cristalina for.

Jesus é a manifestação mais perfeita de Deus, que o mundo conhece. Seu espírito puro e amorável permitiu que, através dele, Deus se fizesse perfeitamente visível à Humanidade. Esse o motivo por que ele próprio se dizia - Filho de Deus e Filho do Homem.”

No mesmo livro, Vinicius, em “O Filho de Deus”, discorre:

“Porque se dizia Jesus, ora Filho do Homem, ora Filho de Deus? Se ele era filho do homem, como podia ser filho de Deus? E se era filho de Deus, como podia ser filho do homem?

Há sabedoria nesta expressão do Senhor, como, aliás, em todas as palavras que proferiu.

Ele era filho do homem porque a Criação é uma só, obedece à mesma ordem, à mesma lei com relação a todos os seres criados. Não há privilégios, não há distinção: unidade de programa, unidade de gênese, unidade de destino; Jesus, portanto, em tal sentido, é o Filho do homem; e é o Filho de Deus porque desde que o Pai o sagrou como diretor espiritual deste orbe, a cuja fundação presidiu, nela colaborando, de há muito havia ele conquistado o reino dos Céus; de há muito se achava integralizado na vida eterna, na imortalidade. Daí o seu dizer: ‘Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima.’

Jesus não é Deus, como pretendem os credos dogmáticos, nem tampouco é homem, no sentido vulgar, como querem as vãs filosofias negativistas. Entre o homem e Deus medeia um abismo, onde a vida palpita em seus mais belos esplendores. Se aquém da humanidade pululam os seres inferiores, debaixo de formas incontáveis, além da humanidade ostentam-se os seres superiores sob infinitos aspectos. Aquém e além da Terra verifica-se o mesmo fenômeno: a vida em seu movimento ascensional e triunfante.

Os extremos da simbólica escada de Jacob, por onde desciam e subiam anjos, perdem-se, dum lado no infinitamente pequeno, doutro lado no infinitamente grande.

O microcosmo e o macrocosmo revelam Deus.”

No livro “Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita”, Livro II, Módulo II, Roteiro 6, em “A inspiração de Pedro”, ensina:

“Filho do Homem’ é expressão comum no Evangelho. Participando da ascendência divina como filho de Deus, Ele, como ‘Filho do Homem’, mostra sua identificação com as faixas de aprendizado dos seres em evolução no orbe. O Filho do Homem é, portanto, o exemplo de perfeição que podemos aspirar. O homem por excelência que, amadurecendo seus potenciais, penetra nas linhas sutis de assimilação das revelações espirituais superiores. Trata-se de alguém ajustado à sintonia ideal do eterno Bem que, pela utilização dos conteúdos existentes no seu superconsciente, liga-se diretamente às fontes inesgotáveis da Vida Maior. É Espírito portador de evolução humana completa caracterizada pela angelitude. Dessa forma, “Filho do Homem” é aquele que nasce, cresce e se evidencia pela capacidade de transformação de si mesmo, sob a tutela amorável de Deus.

No mesmo livro, no Módulo IV, Roteiro 1, em “O paralítico de Cafarnaum”, complementa-se:

“Como construtor e diretor do Planeta, identificado como ‘Filho do Homem’, Ele nos revela a lei de amor. Mostra, também, que como guia e modelo o ‘Filho do Homem’ é o que está à frente, imagem representativa da espécie humana do futuro, cujo conhecimento e identificação com o Pai será atingida e sentida pela humanidade.”

Cairbar Schutel, no livro “O Espírito do Cristianismo”, escreveu:  

“Segundo nos parece, nesses versículos não há base para afirmar nem negar a natureza do ‘corpo de Jesus’ de nós, não concebemos Jesus Cristo senão como ele se mostrou e disse ser: Filho de Deus, e Filho do Homem; por sua natureza espiritual, Filho de Deus; por sua natureza carnal, Filho do Homem. E claro que o corpo de Jesus era muito mais aperfeiçoado que o nosso, pois diz o provérbio: mens sana in corpore sano; mas não podemos negar a sua natureza material, sem negar o próprio Jesus.”

Como Filho do Homem ou Filho de Deus, Jesus Cristo como cocriador divino, enviado de Deus, Ele foi a representação do Pai junto do rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria, cuja tutela lhe foi confiada nas ordenações sagradas da vida no Infinito”, sendo o “Diretor angélico do orbe” terrestre.

Autor: Juan Carlos Orozco 

Bibliografia:

BIBLIA SAGRADA.

EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. A caminho da luz: História da civilização à luz do Espiritismo. 38ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco Cândido Xavier. O Consolador. 29ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. Obras póstumas. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

MOURA, Marta Antunes de Oliveira de (Organizadora). Estudo aprofundado da doutrina espírita: Ensinos e parábolas de Jesus – Parte II: orientações espíritas e sugestões didático-pedagógicas direcionadas ao estudo do aspecto religioso do Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2016.

SCHUTEL, Cairbar. O Espírito do Cristianismo. 1ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2021.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

VINICIUS. Nas pegadas do mestre. 12ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2014.


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