Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas
Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis aos
porcos as vossas pérolas
“Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis aos porcos as
vossas pérolas, para que não suceda que as pisem, se voltem contra vós e vos estraçalhem.”
(Mateus,
7:6)
As passagens evangélicas trazem inúmeros ensinamentos para as
nossas vidas, principalmente àqueles que desejam seguir as pegadas do Mestre
Jesus.
Essa mensagem não pode ser interpretada de forma literal, em
especial quanto aos cães e porcos, pois o Cristo não tinha a intenção de
negar-lhes o serviço evangélico, mas alertar o discípulo a não lançar para eles
“alimentos” impróprios (materiais, edificantes ou espirituais), podendo causar
até mesmo suas revoltas. Obviamente, cães não se interessam por coisas santas e
tampouco porcos apreciam pérolas.
As coisas santas e as pérolas (alimentos edificantes para o
Espírito) representam a doutrina cristã advinda da Boa Nova, que possuem os
seus valores sagrados como tesouros celestiais, e os cães e porcos simbolizam
certos tipos de pessoas que não se “alimentam” dessas coisas. Mas esses seres
da criação divina necessitam dos seus “alimentos” (materiais ou ajuda)
específicos para sobreviver.
É exatamente nesses aspectos que o Espírito Emmanuel, na
psicografia de Francisco Cândido Xavier, nos textos “Cães e coisas santas” e
“Não cesses de ajudar”, conduz a uma reflexão quanto a dar o “alimento”
adequado aos diferentes tipos de pessoas, conforme as suas situações evolutivas
moral e espiritual. Vejamos os dois textos:
“Cães e coisas santas
Certo, o cristão sincero nunca se lembrará de transformar um cão
em partícipe do serviço evangélico, mas, de nenhum modo, se reportava Jesus à
feição literal da sentença.
O Mestre, em lançando o apelo, buscava preservar amigos e
companheiros do futuro contra os perigos da imprevidência.
O Evangelho não é somente um escrínio celestial de sublimes
palavras. É também o tesouro de dádivas da Vida eterna.
Se é reprovável o desperdício de recursos materiais, que não dizer
da irresponsabilidade na aplicação das riquezas sagradas?
O aprendiz inquieto na comunicação de dons da fé às criaturas de
projeção social, pode ser generoso, mas não deixa de ser imprudente. Porque um
homem esteja bem trajado ou possua larga expressão de dinheiro, porque se
mostre revestido de autoridade temporária ou se destaque nas posições
representativas da luta terrestre, isto não demonstra a habilitação dele para o
banquete do Cristo.
Recomendou o Senhor seja o Evangelho pregado a todas as criaturas;
entretanto, com semelhante advertência não espera que os seguidores se
convertam em demagogos contumazes e, sim, em mananciais ativos do bem a todos
os seres, através de ações e ensinamentos, cada qual na posição que lhe é
devida.
Ninguém se confie à aflição para impor os princípios evangélicos,
nesse ou naquele setor da experiência que lhe diga respeito. Muitas vezes, o
que parece amor não passa de simples capricho, e em consequência dessa
leviandade é que encontramos verdadeiras maltas de cães avançando em coisas
santas.” (Vinha
de luz. FEB Editora. Cap. 93)
“Não cesses de ajudar
Não atires as joias cintilantes da sabedoria ao ignorante, mas não
te esqueças de oferecer-lhe a bênção do alfabeto, para que diminua a miséria espiritual
do mundo, desde hoje.
Não te percas em longos discursos sobre a glória do bem, ao lado
do irmão infeliz que se fez malfeitor contumaz, entretanto, não negues a
semelhante desventurado o braço fraterno, a fim de que ele possa elevar-se das
profundezas do abismo.
Não te alongues em considerações excessivas sobre a virtude, junto
da mulher, nossa benfeitora e nossa irmã, que resvalou para o despenhadeiro dos
grandes infortúnios morais; todavia, não lhes subtraias o incentivo ao retorno
da vida para a dignidade espiritual no trabalho e no bem a que todos nos
achamos destinados.
Não arrojes o tesouro das revelações divinas ao transeunte que
passa, cujo íntimo ainda não conheces; contudo, não olvides a necessidade de
simpatia e de carinho, com que nos compete ajudar ao forasteiro, de vez que, um
dia, seremos estrangeiros em outras regiões e em outros climas.
Não te precipites no pântano, mas ajuda-o a tornar-se produtivo,
habilitando-o a receber valiosas sementeiras em próximo futuro.
Não confies as tuas plantas selecionadas à esterilidade dos
espinheiros; no entanto, auxilia a terra, removendo-os, convenientemente, a fim
de que o solo hoje infeliz possa, amanhã, surgir renovado ao toque de teu
esforço.
Não cesses de ajudar, construindo e elevando para o bem infinito.
‘Não atires pérolas aos porcos’ – proclamou o divino Mestre;
entretanto, essa afirmativa não nos induz a esquecer o alimento que devemos a
esses pobres animais.
A leviandade, a ignorância, a perturbação, a desordem, a
incompreensão e a ingratidão constituem paisagens de trabalho espiritual,
reclamando-nos atuação regeneradora.
Não olvidemos a palavra do Senhor, quando nos asseverou,
convincente: ‘Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também’.” (Reformador,
out. 1953, p. 245)
No mesmo sentido de fornecer o alimento mais apropriado a cada
ser, Cairbar Schutel, no livro Parábolas e ensinos de Jesus, esclarece:
“As pérolas constituem enfeites para a gente fina; são raras, por
isso são caras. Quem possui grandes e finas pérolas possui tesouro, possui
fortuna.
Além disso, são joias muito apreciadas no seu todo, pela sua
estrutura, pela sua composição.
Os porcos não apreciam as virtudes das pérolas; preferem milho ou
alfarrobas. Se lhes dermos pérolas, eles pisam-nas e submergem-nas no lamaçal
em que vivem; por isso disse Jesus: ‘Não deis pérolas aos porcos’.
Certamente já havia o Senhor do Verbo Divino comparado o reino dos
Céus a uma pérola de raro valor, quando propôs aquela recomendação a um
discípulo que deliberara anunciar a sua Doutrina a um homem-suíno.
Na verdade, há homens que são homens, e há homens que se parecem
muito com suínos.
O suíno vive exclusivamente para o estômago e para a lama. Os
homens suínos também vivem de lama e para o estômago. A estes as ‘pérolas’ nada
significam: as alfarrobas melhor lhes sabem.”
Antônio Luiz Sayão, em Elucidações Evangélicas,
expressou: “Não deis aos cães as coisas santas, nem lanceis aos porcos
as vossas pérolas. Quer isto dizer: procedei sempre de acordo com as
circunstâncias de ocasião. Sondai o terreno, preparai-o e, se o reconhecerdes
fértil, por pouco que seja, semeai com prudência e precaução. Cultivai depois
com cuidado a semente. Se, ao contrário, o terreno vos parecer árido e ingrato,
guardai silêncio, demonstrando que não quereis falar.”
No livro Estudo aprofundado da Doutrina Espírita, no Livro
III, Módulo V, Roteiro 2, extraímos: “A proposta orientadora de Jesus é
dirigida, preferencialmente, aos deserdados, aos caídos, como era a situação da
mulher sirofenícia. Por considerar a origem étnico-cultural da mulher cananeia,
e para evitar dar ‘aos cães as coisas santas’, ou deitar-se ‘aos porcos as
vossas pérolas’ (Mateus, 7:6), segundo a linguagem evangélica, Jesus agiu com
cautela, a fim de não imprimir ação coercitiva, capaz de violentar a
personalidade da irmã que, aliás, soube receber o auxílio com lucidez, porque
sabia, realmente, o que necessitava.”
No livro O Evangelho Redivivo, Livro II, em “24.2 NÃO
PROFANAR AS COISAS SANTAS (MT 7:6), destacamos: “Não deis aos cães o
que é santo, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e,
voltando‑se contra vós, vos estraçalhem. Na Bíblia de Jerusalém consta que o
sentido de profanação de coisas santas pode ser assim interpretado: “(...) não
se deve propor uma doutrina preciosa e santa a pessoas incapazes de recebê‑las
bem e que poderiam fazer mau uso dela (...).”
Assim, não podemos negar os nossos serviços aos que necessitam da
nossa ajuda, mas devemos ter a devida cautela para lançar o que é exatamente
preciso diante da circunstância que se apresenta. Seria como ministrar ao
paciente o remédio adequado e a dosagem correta para curar a enfermidade à qual
ele foi produzido.
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
EMMANUEL
(Espírito); Saulo Cesar Ribeiro da Silva (Coordenação). O Evangelho por Emmanuel: comentários ao
evangelho segundo Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação
Espírita Brasileira, 2017.
MOURA, Marta Antunes de Oliveira de
(organizadora). O Evangelho redivivo: estudo interpretativo do Evangelho
segundo Mateus. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2020.
SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas
à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2019.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus.
28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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