Os escândalos e a reencarnação
Os escândalos e a reencarnação
“Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham
escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua
mão - ou o teu pé - te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti;
melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois
pés, seres lançado no fogo eterno. E, se o teu olho te escandalizar, arranca-o,
e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho, do que,
tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno.” (Mateus, 18:7-9)
Essa reflexão apoia-se no Evangelho de Mateus, que trata dos
escândalos que os seres humanos dão causas, como consequência dos vícios, das
imperfeições, do atraso moral, da invigilância e da ignorância das leis de
Deus, tendo como efeitos existências educativas e corretivas em reencarnações
mediante provas e expiações relacionadas aos escândalos praticados.
De uma maneira geral, as pessoas não compreendem certos
sofrimentos na vida, atrelando-os às suas consequências, sem conhecer as
causas. Por outro lado, importante identificar a origem dos sofrimentos,
descobrir por que eles acontecem e, somente assim, é possível amenizá-los,
neutralizá-los ou mesmo impedi-los.
Entendendo as causas dos
sofrimentos, pela lei de causa e efeito, o ser humano esforça-se pela aceitação
dos mesmos, resigna-se, não reclama, tampouco se revolta ou desespera, porque
sabe que esses males são necessários ao seu progresso moral e espiritual.
Assim, os escândalos praticados em vidas passadas e as
reencarnações se relacionam e conectam, em que todo o mal produzido tem de ser
reparado.
Nesse sentido, extraímos alguns textos da literatura espírita que
trazem luzes a esse respeito, auxiliando-nos na interpretação, na compreensão,
nos esclarecimentos e nos ensinamentos dessa passagem evangélica.
O Espírito Emmanuel, no livro “O Consolador”, na psicografia de
Francisco Cândido Xavier, na questão 307, “Por que disse Jesus que ‘o
escândalo é necessário, mas ai daquele por quem o escândalo vier’?”,
responde:
“- Num plano de vida, onde quase todos se encontram pelo escândalo
que praticaram no pretérito, é justo que o mesmo ‘escândalo’ seja necessário,
como elemento de expiação, de prova ou de aprendizado, porque aos homens falta
ainda aquele ‘amor que cobre a multidão dos pecados’.
As palavras do ensinamento do Mestre ajustam‑se, portanto, de
maneira perfeita, à situação dos encarnados no mundo, sendo lastimáveis os que
não vigiam, por se tornarem, desse modo, instrumentos de tentação nas suas
quedas constantes, através dos longos caminhos”.
Por esse texto, encontramo-nos em nossas existências pelos
escândalos praticados no passado, sendo eles necessários como elemento de
expiação, prova ou aprendizado, para desenvolver nos homens o que lhes falta de
amor a Deus e ao seu próximo.
Cairbar Schutel, no livro “Parábolas e Ensinos de Jesus”, em
“Parábola da ovelha perdida”, comenta:
“O Pai não quer a morte do ímpio; não quer a condenação do mau, do
ingrato, do injusto, mas sim a sua regeneração, a sua salvação, a sua vida, a
sua felicidade.
Ainda que seja preciso, para a regeneração do Espírito, nascer ele
na Terra sem mão ou sem pé, entrar na vida manco ou aleijado; ainda que lhe
seja preciso renascer no mundo sem os olhos, por causa dos ‘tropeços’, por
causa dos ‘escândalos’, a sua salvação é tão certa como a da ovelha que se
havia perdido e lembrada na parábola, porque todos esses pobres que arrastam o
peso da dor, os seus guias e protetores os assistem para conduzi-los ao porto
seguro da eterna bonança”.
O destino de todos é a busca da perfeição relativa à Humanidade,
tendo Jesus como modelo e guia, cujos ensinamentos e exemplos servem como
roteiro de vida para a evolução moral e espiritual, mediante a regeneração e
libertação para a conquista da felicidade duradoura. Para tanto, temos os guias
e protetores a auxiliar-nos na condução para o porto seguro da eterna bonança.
Emmanuel, no livro “Caminho, verdade e vida”, no Capítulo 108, em
“Reencarnação”, esclarece:
“Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e
atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou aleijado, do que,
tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno”. – Jesus. (Mateus,
18:8.)
Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do
sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e
sábios princípios.
Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.
É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade
estagnada, quase morta.
“No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor,
apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência
culpada pelo desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram
criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração
paralítico. A expressão ‘melhor te é entrar na vida’ representa solução
fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas? Referia-se, porém, o
Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da qual todo Espírito
despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.
Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos Jesus o
motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados,
cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de
refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.
Quanto à imagem do ‘fogo eterno’, inserta nas letras evangélicas,
é recurso muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a
viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de mil meios diferentes;
se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores
permanecerão igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto
seu concurso perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.” (Espírito Emmanuel, na
psicografia de Francisco Cândido Xavier. Caminho, verdade e vida. FEB Editora.
Cap. 108)
Por esses esclarecimentos, destaca-se “o motivo determinante
dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e paralíticos
de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e
regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura”.
Antônio Luiz Sayão, no livro “Elucidações evangélicas”, esclarece:
“No planeta atrasado em que habitamos, as encarnações, em geral,
são concedidas aos Espíritos que as pedem, para expiação e reparação de faltas
que anteriormente cometeram. Consistem as expiações em sofrimentos físicos e
morais, sofrimentos esses que, muitas vezes, são causados pelos maus atos, maus
conselhos, maus exemplos de outros que, obstinados no mal, se tornam assim
causas ou instrumentos de escândalo. Constitui este, para o que lhe experimenta
as consequências, uma como punição de suas culpas e, portanto, um fator do seu
progresso.
Necessário é, pois, que haja escândalo no mundo, visto que só
mediante eles muitas consciências despertam para o reconhecimento dos erros
praticados e para o arrependimento, e que, pelo contato com os vícios, que as
virtudes se fortalecem e deles triunfam. Ai, porém, dos que ocasionem o
escândalo, e ai também, ainda que menor lhes seja a culpa, dos que se deixem
levar até ao escândalo. Mais valera não houvessem encarnado, antes de estarem
bastante amadurecidos para uma vida melhor.
Qualquer que seja o sacrifício que nos custe a destruição, em
nossas almas, de todas as causas do mal, preferível é que o façamos a que nos
tornemos causa de escândalo, com o que nos condenaremos a sofrer, durante
séculos talvez, na vida errante do Espírito culpado, uma tortura de todos os
momentos, sem que nos sorria a esperança de ver-lhe o fim, enquanto o
arrependimento não nos abrir o coração para aninhá-la, induzindo-nos ao desejo
de baixarmos de novo ao mundo, para, numa outra vida, expiar e reparar o mal
praticado. O fogo exprime emblematicamente a expiação, como meio de purificação
e, assim, de progresso, para o Espírito culpado.
O sal, entre os hebreus, era o emblema da purificação de toda
vítima oferecida em oblata ao Senhor.
Recorrendo sempre aos costumes, preconceitos e tradições
hebraicas, para compor a linguagem figurada de que necessitava usar, Jesus
ainda aqui apresentou a infância como emblema da pureza e da virtude.
O Filho do homem veio salvar o que estava perdido. Estavam
perdidos os que se haviam desencaminhado, por não mais obedecerem aos
mandamentos, por os terem falseado, fazendo das tradições o fundamento de seus
dogmas. Esses, os que o Filho do Homem viera salvar, abrindo-lhes uma estrada
nova, em seguimento da de que se tinham afastado. Com o correr dos tempos,
entretanto, também essa nova estrada ficou atravancada de dogmas, de tradições,
de interpretações grosseiras, escombros confusos do edifício que Ele erguera a
tão grande altura, com extrema simplicidade e clareza, proclamando entre os
homens e para a Humanidade inteira que toda a lei e os profetas se contêm
nestes dois mandamentos: ‘amar a Deus acima de todas as coisas’ e ‘amar o
próximo como a si mesmo’, abstração feita de todos os diversos cultos
exteriores, e prescrevendo que não adorassem o Pai nem de cima do monte, nem em
Jerusalém; que o adorassem, como Ele quer ser adorado, em Espírito e Verdade,
isto é, como servos e membros da Igreja universal do Cristo, cujo templo é o
nosso planeta e cujos fiéis são os que praticam aquele duplo amor, pelo exemplo
e pela palavra, para que se lhe cumpra a promessa, de haver um só rebanho
conduzido por um só pastor.
Assim tendo acontecido, volta Ele hoje a salvar, por meio da Nova
Revelação e por intermédio dos Espíritos seus servidores, os que se perderam em
meio daqueles escombros e reconduzi-los, em nome do Espírito da Verdade, ao
caminho que leva a Deus”.
Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, no
Capítulo VIII - Bem-aventurados os que têm puro o coração, em “Escândalos. Se a
vossa mão é motivo de escândalo, cortai-a”, destacamos:
“12. No sentido vulgar, escândalo se diz de toda ação que de modo
ostensivo vá de encontro à moral ou ao decoro. O escândalo não está na ação em
si mesma, mas na repercussão que possa ter. (...)
No sentido evangélico, a acepção da palavra escândalo, tão amiúde
empregada, é muito mais geral, pelo que, em certos casos, não se lhe apreende o
significado. Já não é somente o que afeta a consciência de outrem, é tudo o que
resulta dos vícios e das imperfeições humanas, toda reação má de um indivíduo
para outro, com ou sem repercussão. O escândalo, neste caso, é o resultado
efetivo do mal moral;
13. É preciso que haja escândalo no mundo, disse Jesus, porque,
imperfeitos como são na Terra, os homens se mostram propensos a praticar o mal,
e por que árvores más, só maus frutos dão. Deve-se, pois, entender por essas
palavras que o mal é uma consequência da imperfeição dos homens, (...);
14. É necessário que o escândalo venha, porque, estando em
expiação na Terra, os homens se punem a si mesmos pelo contato de seus vícios,
cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujos inconvenientes acabam por
compreender. Quando estiverem cansados de sofrer devido ao mal, procurarão
remédio no bem. A reação desses vícios serve, pois, ao mesmo tempo, de castigo
para uns e de provas para outros. É assim que do mal tira Deus o bem e que os
próprios homens utilizam as coisas más ou as escórias. (...);
17. Se vossa mão é causa de escândalo, cortai-a. Figura enérgica
esta, que seria absurda se tomada ao pé da letra, e que apenas significa que
cada um deve destruir em si toda causa de escândalo, isto é, de mal; arrancar
do coração todo sentimento impuro e toda tendência viciosa. Quer dizer também
que, para o homem, mais vale ter cortada uma das mãos, antes que servir essa
mão de instrumento para uma ação má; ficar privado da vista, antes que lhe
servirem os olhos para conceber maus pensamentos. Jesus nada disse de absurdo,
para quem quer que apreenda o sentido alegórico e profundo de suas palavras.
Muitas coisas, entretanto, não podem ser compreendidas sem a chave que para as
decifrar o Espiritismo faculta”.
Bibliografia:
BÍBLIA.
KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2019.
EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco
Cândido Xavier. Caminho, verdade e vida.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2021.
EMMANUEL (Espírito); na psicografia de Francisco
Cândido Xavier. O Consolador. 29ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas
à luz da Doutrina Espírita. 16ª
Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de
Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa
Editora O Clarim, 2016.

Comentários
Postar um comentário