Gratidão e ingratidão
Gratidão
e ingratidão
Indo a Jerusalém, Jesus entrou em uma aldeia, saindo dela dez leprosos
ao seu encontro, que pararam longe e disseram: Jesus tenha misericórdia de nós!
Jesus vendo-os, disse: “ide e mostrai-vos aos sacerdotes”.
Indo eles, ficaram limpos.
Um deles, vendo-se são, voltou glorificando a Deus em alta voz; caiu
aos seus pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
Jesus, disse: não foram dez os limpos? Onde estão os nove?
Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?
Disse-lhe: levante-se e vá; a sua fé lhe salvou. (Lucas, 17: 11-19)
Estamos diante de exemplos de fé, gratidão e ingratidão.
Chama atenção o comportamento do samaritano, que foi grato pela cura
ocorrida, demonstrando a sua fé.
Os outros leprosos não receberam o mesmo benefício?
Por que eles não foram gratos?
Gratidão é sentimento motivado pela identificação, pelo reconhecimento
e pela valorização de benefício recebido ou de bom momento vivenciado.
Benefícios e bons momentos para a gratidão podem ser diversos, tais
como: auxílios, favores, dádivas, graças, experiências positivas ou
relacionamentos significativos.
Pode ser benefício também situação aparentemente negativa, mas que
evitou mal maior, denominada de coincidência, fortúnio, acaso ou milagre, tais
como: perder o embarque de um avião que caiu depois da decolagem; estar
envolvido em acidente grave que saiu ileso; ou outros acontecimentos que
evitaram danos graves.
Normalmente, após situações como essas, as pessoas passam a ter uma
nova visão da vida, das coisas ou das pessoas, passando a enxergar e valorizar
o que antes não dava importância.
Comum dizer: Deus me deu mais uma chance ou eu nasci de novo.
Parecendo contrassenso, a dor e o sofrimento podem ser, também,
considerados benefícios para gratidão, quando suscitam na pessoa lições
importantes, ensinamentos valiosos e aprendizados renovadores, que estimulam
mudanças de comportamentos com crescimento pessoal, tendo por fundamentos
valores transcendentais e essenciais para a vida moral e espiritual, ou seja,
além da vida material.
Sem negar a dor e o sofrimento, a adversidade, quando refletida
profundamente, alerta para algo que está errado e precisa ser mudado na vida,
cujo aprendizado trará novo rumo.
Há um ditado que diz: insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e
esperar resultado diferente; para obter outro resultado, é preciso mudar a sua
forma de realizar. Se algo está dando errado na vida, é preciso mudar!
Assim, a gratidão é um sentimento nobre que eleva o Espírito, nos
conecta com os outros e com o bem, e pode ser uma expressão de amor ou um
caminho para ele, sendo um reconhecimento do bem que recebemos, seja de Deus,
de outras pessoas ou da vida.
No entanto, há pessoas que focam apenas em si mesmas.
Mesmo recebendo benefícios, elas não os identificam e reconhecem como tal,
sendo dominadas pelos sentimentos de egoísmo, orgulho, soberba, indiferença,
superioridade, inveja, arrogância, que levantam barreiras para a gratidão.
Esses tipos de pessoas, com ignorância para as coisas de Deus e
dominadas por ilusões que cegam, acreditam-se merecedoras de tudo que recebem,
tratando os benefícios com menosprezo, como algo natural em retribuição pelo
que são, realizam ou realizaram, com percepção distorcida da realidade da vida.
A humildade está diretamente ligada à gratidão, pois o humilde
reconhece que, apesar de suas qualidades e seus talentos, possui limitações e,
em algum momento, necessitará do auxílio de outro.
A humildade não é submissão ou autodesvalorização, mas estado de
espírito que se contrapõe ao orgulho, à arrogância e à soberba.
Há quem condicione gratidão somente a grandes acontecimentos,
desvalorizando pequenos gestos de apoio, olhares solidários, palavras
consoladoras ou momentos simples de amor, deixando de reconhecer e agradecer as
conquistas singelas do dia a dia.
Nada é insignificante nas experiências terrenas, pois sempre haverá
algo ou alguém que trouxe certo benefício.
A ingratidão é ausência de reconhecimento e apreço pelo que foi
recebido, como benefícios ou auxílios de outras pessoas.
Comportamento que pode ser motivado pelo egoísmo, pela falta de
empatia, pela imaturidade emocional e moral ou pela percepção distorcida de
merecimento.
A ingratidão é uma prova de perseverança para quem pratica o bem e a
caridade, sendo desafio a ser superado.
Isso porque a prática do bem e da caridade deve ser realizada de forma
incondicional, sem esperar reconhecimento ou gratidão.
Em vez de lamentar a ingratidão, abatendo-se pela decepção, deve-se
focar nas lições decorrentes dela, enxergando a valiosa oportunidade renovadora
de aprendizado e de crescimento pessoal.
A visão para uma percepção positiva da ingratidão favorece um
sentimento compreensivo, consolador e tranquilo para futura reconciliação, que
poderá motivar a gratidão mútua.
A decepção pela ingratidão não pode motivar deixar de praticar a
caridade, pois haverá mais egoísmo do que caridade.
Se o bem recebido for esquecido por alguém nessa vida, será lembrado em
outra; e o ingrato se envergonhará e terá remorsos do seu comportamento.
Ademais, não se deve praticar o bem com a finalidade de ser visto pelas
pessoas, buscando reconhecimento e gratidão para atender à vaidade, ao ego e ao
orgulho na busca de lisonja.
Quem mais busca a aprovação dos homens do que a de Deus, mais fé
deposita naqueles do que na Divindade, dando maior valor à vida terrena do que
à vida futura.
Aquele que procura a própria glória na Terra pelo bem que pratica, já
recebeu a sua recompensa no plano físico. Deus nada deve!
O bem e a caridade devem ser praticados sem distinção, sem ostentação,
sem interesse e de maneira incondicional.
A verdadeira recompensa está na ação realizada, de ter feito o bem pelo
simples ato de doar-se.
Diante da ingratidão, fundamental manter-se sereno com equilíbrio.
Sem o reconhecimento esperado, não se aborreça, confiando que o tempo e
a providência divina trarão as respostas necessárias.
Continue semeando bondade e amor, pois tudo é passageiro.
A exemplo dos ensinamentos do Cristo, para entrar na posse de um
tesouro celestial, muita vez, experimentaremos o martírio da cruz e o fel da
ingratidão.
A ingratidão recebida por Jesus, depois de vários benefícios
proporcionados, faz com que tenhamos reflexões acerca do seu sublime amor por
todos nós.
Se olhar com atenção para a vida, será possível perceber dádivas,
graças, benefícios, desafios superados, conquistas alcançadas ou mal evitado
que justificariam a gratidão.
Valorizar o que se tem é muito importante, fazendo encontrar beleza e
significado em cada experiência, cultivando um coração aberto e sereno diante
dos benefícios da vida.
Sejamos gratos a todos os benefícios recebidos, aos momentos positivos
da vida, às situações difíceis, às dores e aos sofrimentos, que trouxeram
lições, ensinamentos e aprendizados para o crescimento pessoal, bem como a tudo
aquilo que Deus proporcionou à vida e aos momentos de proteção que nos
concedeu.
No atual momento de marcante indiferença para com os semelhantes, a
prática da gratidão, sem distinção e ostentação, e de maneira incondicional,
contribui para promover um mundo melhor e mais fraterno, pois o reconhecimento
dos valores das coisas, pessoas, experiências e dos benefícios recebidos, desde
os mais simples, fomentam a valorização da própria vida, rompendo as barreiras
do egoísmo e do orgulho.
Bibliografia:
BÍBLIA
SAGRADA.
CAMPOS,
Humberto de (Espírito); (psicografado por) Francisco Cândido Xavier. Boa Nova. 37ª Edição. Brasília/DF:
Federação Espírita Brasileira, 2017.
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Francisco Cândido Xavier. Pão Nosso. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação
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KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição.
Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição.
Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

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